quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Mais um Ano se encerra...


Receita de ano novo
Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Então é Natal - O que fizeram do Natal (Carlos Drummond)

 


O que fizeram do Natal
Carlos Drummond de Andrade

Natal. O sino longe toca fino. Não tem neves, não tem gelos. Natal. Já nasceu o deus menino. As beatas foram ver, encontraram o coitadinho (Natal) mãos o boi mais o burrinho e lá em cima a estrelinha alumiando Natal. As beatas ajoelharam e adoraram o deus nuzinho mas as filhas das beatas e os namorados das filhas, mas as filhas das beatas foram dançar black-bottom nos clubes sem presépio.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Então é Natal - Cordel de Natal e Vídeo (Bráulio Bessa)



Cordel de Natal – Bráulio Bessa

Que você, nesse Natal,
entenda o real sentido
da data em que veio ao mundo
um homem bom, destemido
e que o dono da festa
não possa ser esquecido.

Vindo lá do Polo Norte
num trenó cheio de luz
Papai Noel é lembrado
muito mais do que Jesus.
Ô balança incoerente
onde um saco de presente
pesa mais que uma cruz.

Sei que dar presente é bom
mas bom mesmo é ser presente
ser amigo, ser parceiro
ser o abraço mais quente
permitir que nossos olhos
não enxerguem só a gente.

Que você, nesse momento,
faça uma reflexão
independente de crença,
de fé, de religião
pratique o bem sem parar
pois não adianta orar
se não existe ação.

Alimente um faminto
que vive no meio da rua,
agasalhe um indigente
coberto só pela lua,
sua parte é ajudar
e o mundo pode mudar
cada um fazendo a sua.

Abrace um desconhecido,
perdoe quem lhe feriu,
se esforce pra reerguer
um amigo que caiu
e tente dar esperança
pra alguém que desistiu.

Convença quem está triste
que vale a pena sorrir,
aconselhe quem parou
que ainda dá pra seguir,
e pr’aquele que errou
dá tempo de corrigir.

Faça o bem por qualquer um
sem perguntar o porquê,
parece fora de moda
soa meio que clichê,
mas quando se ajuda alguém
o ajudado é você.

Que você possa ser bom
começando de janeiro
e que esse sentimento
seja firme e verdadeiro.
Que você viva o Natal
todo ano, o ano inteiro.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Então é Natal - Natal Todo Dia (Música)


Natal Todo Dia - Roupa Nova
 
Um clima de sonho se espalha no ar 
Pessoas se olham com brilho no olhar 
A gente já sente chegando o Natal 

É tempo de amor, todo mundo é igual 
Os velhos amigos irão se abraçar 
Os desconhecidos irão se falar 
E quem for criança vai olhar pro céu 
Fazendo pedido pro velho Noel 

Se a gente é capaz de espalhar alegria 
Se a gente é capaz de toda essa magia 
Eu tenho certeza que a gente podia 
Fazer com que fosse Natal todo dia 

Se a gente é capaz de espalhar alegria 
Se a gente é capaz de toda essa magia 
Eu tenho certeza que a gente podia 
Fazer com que fosse Natal todo dia 

Um jeito mais manso de ser e falar 
Mais calma, mais tempo pra gente se dar 
Me diz porque só no Natal é assim 
Que bom se ele nunca tivesse mais fim 

Que o Natal comece no seu coração 
Que seja pra todos, sem ter distinção 
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for 
O melhor presente é sempre o amor

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Então é Natal - Um Conto de Natal (Curta Metragem)

Um musical de Natal criado em animação stop frame com vocais de James Corden. Ele conta a história de Dave, um pai dedicado e dedicado, que percebe que o maior presente que ele pode dar às pessoas neste Natal é a hora dele.
Quando a primeira neve cai, encontramos nosso herói Dave preso no turbilhão de Natal - tudo o que ele quer fazer é chegar em casa para passar um tempo com sua família, mas todos os tipos de deveres e calamidades de Natal estão atrapalhando. Isso é até que ele vê um homem de gengibre na mesa de cabeceira de sua filha que eles fizeram para se parecer com ele. Isso lhe dá uma genial onda cerebral...





sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Então é Natal - Na Manjedoura (Clarice Lispector)


Na Manjedoura

Na manjedoura estava calmo e bom. Era de tardinha e ainda não se via a estrela-guia. Por enquanto a alegria serena de um nascimento — que sempre renova o mundo e o faz começar pela primeira vez — por enquanto a alegria suave pertencia apenas a uma pequena família humilde. Alguns outros sentiam que algo acontecia na terra, mas ver, ninguém via ou ao certo sabia. Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro como um cordeiro, refulgia o menino, tenro como o nosso filho. Bem dè perto a cara de um boi e outra de jumento olhavam. E esquentavam o ar ‘com o hálito do corpo. Era depois do parto, e tudo, úmido repousava, tudo úmido e morno respirava. Maria descansava o corpo cansado — sua tarefa no mundo e diante dos povos e de Deus seria a de cumprir o seu destino, e ela agora repousava e olhava a criança doce. José de longas barbas, ali sentado, meditava, apoiado no seu cajado: seu destino, que era o de entender, se realizara. 

O destino da criança era o de nascer. Ouvia-se como se fosse no meio da noite calada, aquela música de ar que cada um de nós já ouviu e de que é feito o silêncio. Era extremamente doce e sem melodia, mas feita de sons que poderiam se organizar em melodia. Flutuante, ininterrupta. Os sons como quinze mil estrelas. A pequena família captava a mais primária vibração do ar — como se o silêncio falasse. O silêncio do Deus grande falava. Era de um agudo suave, constante, sem arestas, todo atravessado por sons horizontais e oblíquos. Milhares de ressonâncias tinham a mesma altura e a mesma intensidade, a mesma ausência de pressa, noite feliz, noite sagrada. 

E o destino dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A doçura dos brutos compreendia a inocência dos meninos. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são. 

Este menino, que renasce em cada criança nascida, iria querer que fôssemos fraternos diante da nossa condição e diante de Deus. O menino iria se tornar homem e falaria. 

Hoje em muitas casas do mundo nasce um Menino. 

E, como se não bastasse, espouca no ar como champanhe o borbulhante Ano Novo.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Então é Natal - Poema de Natal (Vinícius de Moraes) - Vídeo



Poema de natal

Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra
Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve
Ver a noite dormir em silêncio
Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações se deixem
Graves e simples
Pois para isso fomos feitos
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos
Hoje a noite é jovem
Da morte, apenas nascemos
Imensamente

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Então é Natal - Tudo Tão Vago


"Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo..." ( Mario Quintana)
O próprio Mário Quintana diz que não se deve analisar suas poesia, mas... A sua poesia narra suas lembranças da infância, sempre associada ao tempo que já passou, com uma nostalgia ao tempo passado. Seus temas são o misticismo (nossa Senhora e o menino Jesus) falando da pureza, do aconchego, do carinho. Ele olha o rio e vê através de um olhar saudosita e melancólico que ele já adulto, sua vida jamais será resgatada e revivida. O eu-poético pode apenas rememorar e reviver as suas lembranças:
"e ia purificando como um rio o meu coração que ENEGRECERA tanto"

Tudo Tão Vago 
Mário Quintana 

Nossa Senhora
Na beira do rio
Lavando os paninhos
Do bento filhinho
São João estendia
São José enxugava
E o menino chorava
Do frio que fazia
Dorme criança
Dorme meu amor
Que a faca que corta
Dá talho sem dor

(de uma cantiga de ninar)

Tudo tão vago… Sei que havia um rio…
Um choro aflito… Alguém cantou, no entanto…
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu…

O Menino dormira… Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu…
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto…

E era a voz que eu ouvi em pequenino…
E era Maria, junto à correnteza
Lavando as roupas de Jesus Menino…

Eras tu… que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!…