terça-feira, 30 de junho de 2020

Um livro necessário e urgente!

O Ódio que Você Semeia



"Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo.
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos – no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar."


O Ódio Que Você Semeia é o livro de estreia de Angie Thomas. Eleito como Melhor Young Adult e Melhor Romance de Estreia pelo Goodreads Choice Awards em 2017, e o Melhor dos Melhores na premiação de 2018, foi adaptado para as telonas pela Fox. Apesar de todo seu sucesso, o filme quase não foi distribuído pelos cinemas nacionais — o que corrobora a própria mensagem transmitida por Starr.


Starr é uma jovem de 16 anos dividida entre dois mundos diferentes: mora na periferia com a família e estuda nos subúrbios, onde precisou aprender a não ser “a garota negra do gueto”. Tudo em sua vida entra em conflito quando testemunha a morte injusta de seu melhor amigo por um policial, gerando consequências diretas a ela e aos que a cercam.

Não é difícil se envolver com a leitura. A escrita de Angie Thomas é simples, direta e sem floreios, retratando muito bem a voz de Starr: a jovem sabe identificar o que realmente importa e vai direto ao ponto em seus argumentos. Vale o destaque ao trabalho de tradução de Regiane Winarski, que consegue passar muito bem para o português as modificações linguísticas na narrativa durante a transição entre os “mundos” de Starr. Mas mais do que a escrita, é a força que emana do livro o que realmente nos envolve. A história já começa intensa e revoltante e essa característica só se intensifica no passar de páginas. O Ódio Que Você Semeia traz um tapa na cara atrás de outro.


A protagonista, para começo de conversa, é muito bem construída, já que são várias as camadas de conflitos que a compõem e fazem dela alguém real. Ao mesmo tempo que sofre com o luto pela perda do melhor amigo e com toda injustiça da situação, Starr também encara os conflitos de não sentir pertencer por inteiro a nenhum dos lugares que habita: em seu bairro, é a garota que foi estudar na escola dos brancos; na escola, é a garota negra do gueto. Com isso, o conflito também se estende as suas relações, já que há partes dela que dificilmente poderão ser divididas com as pessoas que fazem parte ou de um mundo ou de outro. Assim, ela é uma jovem em luta por uma causa maior, mas é também uma adolescente buscando entender quem é e qual seu lugar no mundo.

Nada disso seria possível sem a sensibilidade de Angie Thomas em transmitir os conflitos ao leitor. A autora, inclusive, pontua com maestria diversas passagens explicitando as muitas formas assumidas pelo racismo — temática central do livro —, ao mesmo tempo que consegue contrabalançar o peso de O Ódio Que Você Semeia com momentos mais leves e ternos. A família de Starr, por exemplo, é completamente apaixonante e vê-la tão rodeada de amor serve também como um conforto para nós, que lemos sua vida. Não só por isso, há muitos diálogos travados entre seus familiares e amigos mais próximos que me arrancam risos, mesmo que, instantes antes, tiram as lágrimas.


O Ódio Que Você Semeia é impactante e necessário. Ao ser direcionado a um público jovem e em formação, a autora diz a ele a relevância e a importância das vozes que o formam e de quão mais sonoras elas são quando unidas. E, embora seja um Young Adult, esse é um livro para todos, independentemente de preferências literárias, porque o que importa é a mensagem que ele traz ao representar um mundo tão pouco representado.
Fonte: Minha Vida Literária

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Um Clássico

O livro de hoje é "1984" - de George Orwell

Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que ‘só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade – só o poder pelo poder, poder puro.’



1984, clássico de George Orwell, sendo um dos pais das distopias, inspirou diversas obras atuais, além do Big Brother, programa de reality show famoso mundialmente.

Narrado em terceira pessoa, o livro traz a história de Winston no ano que dá nome à obra, em Londres, pertencente à Oceânia, superpotência controlada pelo Partido, governo totalitário comandado por seu líder e símbolo, o Grande Irmão. O protagonista pertence ao Partido Externo, classe social intermediária ao Núcleo do Partido, a mais privilegiada, e aos “proletas”, a mais desfavorecida e predominante. Além da Oceânia, há duas outras superpotências, a Eurásia e a Lestásia, constantemente em guerras entre si. Winston, enquanto vive pressionado a aceitar o sistema vigente, acaba por, intimamente, se rebelar contra ele e, ao conhecer Julia, por quem se apaixona, ambos partem em uma revolta secreta contra o Partido, unidos pelo amor entre si e pelo desejo de liberdade.

“Estava sozinho. O passado estava morto, o futuro era inimaginável. Que certeza podia ter de que naquele momento uma criatura humana, uma que fosse, estivesse do lado dele? E como saber se o domínio do Partido não seria para sempre?
página 38

Primeiramente, é interessante acompanhar as características da sociedade descrita, bem como cada uma delas influenciou tantas das distopias contemporâneas, lidas não só por jovens, mas por leitores de todas as idades: a hierarquização das classes sociais; a opressão e a violência do governo; a alienação e distorção da verdade como forma de controle.


Além disso, a própria escrita de George Orwell é digna de atenção. Ao mesmo tempo em que parece haver certa distância e simplicidade em suas palavras, há momentos de maior intensidade e de sensibilidade, inclusive no que diz respeito à relação entre Winston e Julia. Há certo romantismo entre eles, causando surpresa com a narrativa delicada e quase poética de Orwell nesses momentos.

“Os fatos, pelo menos, não podiam ser mantidos ocultos. Era possível desvendá-los por meio de investigações, extraí-lo de você como o recurso da tortura. Mas… e se seu objetivo não fosse permanecer vivo, e sim permanecer humano? Que diferença isso faria no fim? Eles não tinham como alterar seus sentimentos: aliás, nem mesmo você conseguiria alterá-los, mesmo que quisesse. Podiam arrancar de você até o último detalhe de tudo que você já tivesse feito, dito ou pensado; mas aquilo que estava no fundo de seu coração, misterioso até para você, isso permaneceria inexpugnável.
página 200

Porém, o grande trunfo de 1984, está na construção psicológica da trama. É a maneira de como o Partido consegue influenciar a mente dos indivíduos que garante poder a ele, e chega a ser aterrorizante o nível atingido pelo ser humano, aquilo que ele passa a ser quando tomado por uma verdade distorcida. George Orwell foi capaz de demonstrar com maestria a desintegração humana e da sociedade justamente por ter conseguido revelar as fraquezas e a crueldade dos homens; 1984 não é apenas uma crítica aos governos totalitários, mas, acima de tudo, um alerta sobre a corrupção e subversão do homem, mal a que está submetido quando exposto aos seus piores temores.

1984 não proporciona uma leitura rápida ou frenética, o que não significa não ser uma boa leitura ou, até mesmo, desinteressante. Ao contrário, é um prato cheio a qualquer um que souber apreciar suas particularidades e grandiosidade. George Orwell, em seu último romance, descreveu uma sociedade futurística um tanto quanto temida. Hoje, distante há mais de 30 anos da época por ele imaginada, sua obra continua atual no que diz respeito aos perigos sofridos pelo homem quando suas maiores fraquezas são expostas, e quando há o inesgotável desejo de poder aliado à mais profunda crueldade da própria alma humana.
Fonte: Minha Vida Literária

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Curiosidade Literária




VILLAGE DU LIVRE: CIDADE FRANCESA “HABITADA” POR LIVROS


Dona de uma paixão inigualável por livros, a cidade francesa de Montolieu abriga o sonho de amantes e aficionados pela leitura, também conhecidos como bibliófilos. Além da própria cidade, a região é rica em história e se mantém forte quando o assunto é preservação, atraindo turistas de diversos locais do planeta.

Com moradores focados em compartilhar sua paixão pelas obras literárias, a Village du Livre, como é conhecida, abriga toda a história da escrita e sua evolução para livros, seja no comércio local, nos eventos mensais e nos museus destinados ao tema.

E com tanta coisa para mostrar, o destino francês certamente é roteiro obrigatório para todos que querem conhecer mais dessa jornada, normalmente registrada nos livros, mas também presente fisicamente nas construções e arredores da comunidade.

Uma vida dedicada aos livros

A Village du Livre (ou Vila dos Livro, em português) não recebe este nome à toa: por toda a cidade é possível encontrar pessoas inteiramente dedicadas a compartilhar seu apreço pela escrita com terceiros.

Dentro dos museus da cidade é possível encontrar a história da escrita e sua evolução. Essa história registrada também fala um pouco do passado do planeta, bem como o caminho que percorremos até os dias atuais.

Ainda nesse registro histórico, o estudo da tipografia, a evolução da técnica de impressão e as tecnologias que surgiram ou foram adaptadas para a produção de livros também podem ser conhecidas pelo público.

Oficinas, workshops e muito aprendizado

Outra característica interessante de Montolieu são as oficinas e workshops oferecidos pela cidade. Nesse assunto, são disponibilizadas oficinas práticas e pedagógicas sobre tipografia, caligrafia, iluminação, gravura, encadernação e até ilustração, que juntas ensinam um pouco das técnicas empregadas pelos artesãos do local.

Novamente, é importante destacar que todo esse processo nos dá uma visão ampla de como os livros são produzidos, mostrando que a história humana teve como base a evolução da escrita e, obviamente, da leitura.

Comércio de usados e a busca pelos tesouros literários

O último grande destaque a ser mencionado neste artigo são as feiras existentes na Village du Livre. Com mais de vinte comerciantes espalhados nas ruas da comunidade, é possível encontrar obras clássicas francesas, como o Pequeno Príncipe, Vinte Mil Léguas Submarinas, Em Busca do Tempo Perdido, Os Miseráveis, além de outras literaturas globais e igualmente conhecidas.

E o comércio é levado bem a sério em Montolieu, que anualmente prepara eventos destinado ao comércio de obras: a Feira do Livro Antigo e Usado, que acontece no fim de semana da Páscoa, e também o Festival de Quadrinhos de Montolieu, que acontece no último fim de semana do mês de outubro.

Para colecionadores ávidos e em busca de deixar seus “tesouros literários” mais ricos e completos, certamente a Village du Livre é um excelente destino para encontrar livros usados – e em excelente qualidade. Além disso, os arredores da cidade de Montolieu também compartilham o gosto pela história e, certamente, são pontos obrigatórios para quem deseja visitar França.
Fonte: Livros e Fuxicos


terça-feira, 23 de junho de 2020

Uma Menina/Mulher fazendo e marcando a História!

A dica de livro de hoje é "Eu sou Malala"




Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz. Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida. Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York. Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz. Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens. O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural cheio de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente. “Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo.

“Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar.”
página 21

Malala Yousafzai nasceu em 1997, no Vale do Swat, Paquistão, mas foi em 2012 que ela ficou conhecida mundialmente depois de ter sido baleada por extremistas do Talibã por lutar pelo direito das mulheres à educação.

O livro é uma biografia, escrita por Malala com a colaboração da jornalista e correspondente no Paquistão e no Afeganistão Christina Lamb. Com uma narrativa extremamente rica, clara e envolvente o livro nos proporciona mergulhar na vida dessa jovem ativista, bem como na realidade do país em que nasceu e, sobretudo, nas condições sócio-históricas que permeiam a realidade paquistanesa.

No país de Malala nascer mulher significava ter a vida permeada por limites, regras e normas específicas, como, por exemplo, de só poder sair na rua acompanhada de uma figura masculina. Filha de um professor, desde cedo a menina foi incentivada à busca por conhecimento e empoderamento. E esse aspecto é um dos mais bonitos e singelos que pude notar: a relação entre pai e filha, uma relação de cumplicidade, aprendizagem, admiração e que nos emociona em diferentes momentos durante a leitura.


"Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo."

A história é bastante ampla, pois mostra, além da rotina de Malala, os conflitos políticos e econômicos que acometiam o país, as mudanças que foram ocorrendo na medida em que ela foi crescendo, o contexto religioso e o ponto crucial que é a questão educacional, que passou a ser restrita apenas aos meninos. Depois dessa restrição, Malala, que já era uma garota com uma opinião muito bem formada e que escrevia sob um pseudônimo para um blog denunciando as atrocidades cometidas às meninas que tentavam frequentar a escola, mais tarde passou a ser chamada também para dar palestras. Com isso, sua família passou a sofrer inúmeras ameaças e, em outubro de 2012, um homem armado parou um ônibus escolar procurando por Malala e disparou vários tiros que acertou a menina, inclusive na cabeça.


A luta por direitos, por igualdade e por educação foram as bandeiras de luta dessa corajosa garota que também teve que lutar pela sua sobrevivência e se tornou uma inspiração para pessoas em todo o mundo. Hoje, com 17 anos, ela é a mais jovem ganhadora do Nobel da Paz pela luta contra a opressão das crianças e pelo direito de todas as crianças à educação. Considero sua biografia uma verdadeira fonte de inspiração, um retrato histórico de uma sociedade que dita regras e restringe direitos, uma obra que informa, emociona, mexe com o leitor e deixa reflexões incríveis para levarmos pelo resto das nossas vidas.
Fonte: Minha Vida Literária


Para quem se interessar, o Livro Malala também tem sua versão infantil.

Boa leitura a todos!




sexta-feira, 19 de junho de 2020

Encerrando a Semana com Dica de Leitura e Análise








Além de muito pedido em Vestibulares e outras provas, nota-se a importância dessa obra, pois ela nos mostra a dura realidade da favela, da fome, do racismo e da invisibilidade social com uma escrita verdadeira. Com uma linguagem simples e própria da sua identidade social, a autora nos apresenta sua luta cotidiana e como a escrita de seus diários foi uma forma de escapar de seus problemas e de fazer uma crítica social.



Apresentação


Carolina Maria de Jesus nasceu no interior de Minas Gerais e, quando jovem, foi para São Paulo buscar melhor condição de vida. Conseguiu um barraco na favela do Canindé, onde passou todo o período em que a obra foi escrita.


Por se tratar de um conjunto de 20 diários, o livro é composto por demarcações de dias, meses e anos, contendo relatos e sensações reais do quotidiano de uma mãe solteira, pobre e catadora de lixo. Neste resumo de Quarto de Despejo fica claro que o livro é marcado pela fome, preconceito, violência e sofrimento. 


Embora tenha sido escrito no período de 1955 – 1960, não se tem registro de todos os dias, (às vezes passava-se de 3 a 10 dias sem registro) devido à fraqueza e à doença de Carolina, adquirida de sua condição social.


Ela foi descoberta quando o jornalista Audálio Dantas fazia um trabalho nas comunidades à beira do rio Tietê e se deparou com esta mulher, que tinha muita história para contar e uma literatura rica a oferecer. 


Dantas preferiu não corrigir os erros ortográficos e variações vocabulares, para que os leitores experimentassem autenticamente a leitura.



Linguagem Única 


Apesar de admitir ter apenas os dois primeiros anos de educação básica, Carolina era apaixonada por literatura e se tornou autodidata: aproveitava o material escolar encontrado no lixo para se aprofundar na escrita.


Contudo, escrevia de uma forma que misturava palavras rebuscadas, que aprendera lendo, com seu vocábulo rudimentar. Esse toque pessoal garante à narrativa uma sensibilidade de percepções extraordinárias.


Dessa forma, sempre prezou que, mesmo em meio à violência da favela, seus filhos fossem à escola. Sua mãe gostaria de tê-la visto como professora.


Em sua escrita, Carolina relata que a cor da fome é amarela: 


“Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.”


Assim, fica claro que apesar de tudo, Carolina ainda tinha habilidade para escrever de forma poética e, ao mesmo tempo, com uma veracidade incrível.


O porquê do título: “Quarto de Despejo”


Neste resumo de Quarto de Despejo, precisamos também explicar o porquê desse nome.


Carolina tinha constantes reflexões sobre política e sociedade, o que garante à obra passagens de grande valor para os leitores. Ela também tecia críticas aos políticos que só lembram da favela e dos seus pobres habitantes durante as eleições.


Em sua obra, escreveu:


“… As oito e meia da noite eu ja estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenha a impressão que sou um objeto fora do uso, digno de estar num quarto de despejo” 


Assim, percebe-se que o título escolhido para a obra é uma frase que resume toda a crítica a essa realidade. Mas, para além disso, retrata o sentimento da autora diante da vida.


Carolina também expõe a invisibilidade social que ela, seus filhos e seus vizinhos viviam. Eram invisíveis, ignorados por aqueles de melhor condição, pelo Estado e até por quem pedia ajuda. 


Dessa forma, a escrita do diário serviu como válvula de escape e esperança, pois sonhava que alguém leria seu diário e se compadeceria, pensando nas várias outras pessoas que vivem em situação semelhante. Uma esperança para a vida.


Realidade dura – conflitos vividos


É preciso ressaltar neste resumo de Quarto de Despejo, que em muitos trechos, Carolina relata sua constante indisposição, seus momentos de raiva e crises emocionais, seus pesares, seu sentimentos por compreender a situação em que se encontrava. 


Porém, a autora sempre encontrava motivação e permanecia mais determinada em continuar lutando quando olhava para sua família:


“Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha.”


A moradora da favela do Canindé também vivia de doações e chegou, várias vezes, a ponto de buscar restos de alimento nas feiras e até no lixo. Nisso, notava a maldade que algumas pessoas depositavam sob os pobres necessitados: 


“Percebi que no Frigorífico jogam creolina no lixo, para o favelado não catar a carne para comer”


Também relata que preferiu ser mãe solteira, não queria se relacionar com homem algum, pois só tinha o exemplo de casamento dos seus vizinhos: homens e mulheres constantemente alcoolizados para enganar a sensação de fome, o que gerava brigas, mortes e violência sem fim. 

Também por isso sofreu preconceito por parte dos vizinhos.


Curiosidades sobre Quarto de Despejo e sobre Carolina Maria de Jesus:




Com o sucesso do livro e a peculiaridade da escrita, questionou-se se a obra não seria do jornalista que acompanhou o caso de Carolina. Porém, foi preciso que grandes escritores, como Manuel Bandeira, relatassem que a percepção era verídica demais para ser escrita por alguém que não tivesse, de fato, vivido aquilo. 
Nos primeiros 3 dias após o lançamento, mais de 10 mil exemplares foram vendidos e a obra virou um fenômeno literário. 
A obra foi traduzida para 13 línguas, referência para estudos sociais e culturais no Brasil e no exterior. 


Análise de Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus – Contexto histórico e religiosidade


Por causa da linguagem transparente e honesta, pode-se notar que a fala e vivência de Carolina são a personificação de outras mulheres que vivem em situações semelhantes por todo país. É como se a voz de todas elas fosse ouvida por meio dessa obra.


Por isso, o livro foi a oportunidade para abordar essas questões de forma impactante e objetiva, ao tratar sobre saneamento básico, recolha de lixo, fome e miséria. Era a possibilidade de adentrar num espaço que o público brasileiro não conhecia a fundo. 


Os diários foram escritos durante o governo de Juscelino Kubitschek, cujo lema era “50 anos em 5”, para impulsionar a construção de Brasília e inúmeras outras obras urbanas que fomentaram expansão e crescimento da infraestrutura no Brasil.


Contudo, essa expansão acelerada foi díspar em relação aos menos favorecidos socialmente, fazendo com que a desigualdade social se tornasse mais aparente e pouco se investisse nos necessitados.

Importância da religiosidade


No cenário de constantes frustrações e miséria, é importante ressaltar o papel da religiosidade. Ao longo do livro, a fé aparece como motivador da protagonista. Carolina encontra na fé força e explicações para situações cotidianas.

Fonte: Beduka

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Uma Biografia Importante



Djamila Ribeiro

Djamila Taís Ribeiro dos Santos (Santos, 1 de agosto de 1980) é uma filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na internet, atualmente é colunista do jornal Folha de S. Paulo.

Djamila Ribeiro tornou-se o nome mais conhecido quando se fala em ativismo negro no Brasil, em cerca de cinco anos apenas. E tudo isso sob um espectro pop: presença ativa nas redes sociais, possuindo mais de 400 mil seguidores, somente no Instagram. Ela conseguiu que sua voz ecoasse muito além das redes sociais. Tornou-se presença constante nos espaços de debate sobre os movimentos das mulheres e na luta por diversidade. Conhecida como filósofa pop, já que alguns de seus feitos englobam uma presença em diversos meios de comunicações populares, que estão desde participações no programa Saia Justa, do GNT, até um programa de entrevistas conduzido por ela no canal Futura. Em 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.

Iniciou o contato com a militância ainda na infância. Uma das grandes influências foi o pai, estivador, militante e comunista, um homem que mesmo com pouco estudo formal, era culto. O nome Djamila, de origem africana, foi uma escolha dele. Aos 18 anos se envolveu com a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização não governamental santista, e passou a estudar temas relacionados a gênero e raça.

Graduou-se em Filosofia pela Unifesp, em 2012, e tornou-se mestre em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria feminista. Em 2005, interrompeu uma graduação em Jornalismo. Suas principais atuações são nos seguintes temas: relações raciais e de gênero e feminismo. É colunista online da CartaCapital, Blogueiras Negras e Revista AzMina e possui forte presença no ambiente digital, pois acredita que é importante apropriar a internet como uma ferramenta na militância das mulheres negras, já que, segundo Djamila, a "mídia hegemônica" costuma invisibilizá-las.

Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad.

Escreveu o prefácio do livro "Mulheres, raça e classe" da filósofa negra e feminista Angela Davis, obra inédita no Brasil e que foi traduzida e lançada em setembro de 2015. Participa constantemente de eventos, documentários e outras ações que envolvam debates de raça e gênero.

Em 2018, a ensaísta prolífica Djamila Ribeiro foi um dos 51 autores, oriundos de 25 países, convidados a contribuir para Os papéis da liberdade ("The Freedom Papers"). Ao longo de sua trajetória, recebeu algumas premiações como Prêmio Cidadão SP em Direitos Humanos, em 2016. Trip Transformadores, em 2017. Melhor colunista no Troféu Mulher Imprensa em 2018, Prêmio Dandara dos Palmares e está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo de 40 anos, segundo a ONU. Também é conselheira do Instituto Vladimir Herzog e visitou a Noruega a convite do governo Norueguês para conhecer as políticas de equidade de gênero do país, em 2017. Foi escolhida como “Personalidade do Amanhã” pelo governo francês em 2019. Djamila foi capa da Revista Gol, Revista Claudia, colunista da Carta Capital e Revista Elle Brasil.

Fez consultoria de conteúdo para a marca Avon, para a Rede Globo de Televisão no programa Amor e Sexo, entre outras empresas e instituições. É idealizadora e coordenadora do Selo Sueli Carneiro.

Fonte: Wikipédia


Para concluir esse texto, indico o livro "Pequeno Manual Antirracista" e coloco a seguinte resposta para a pergunta: Mas por que devo ler essa obra?




Porque em pleno ano de 2020 ainda são necessários, e urgentes, livros como esse, que aborda de maneira acessível e didática vários dos temas caros à militância negra e ao feminismo negro. Embora todos possam se beneficiar da leitura, é um livro voltado justamente para pessoas que ainda não refletiram sobre sua própria racialização (o que inclui, principalmente, pessoas brancas). No capítulo “Enxergue a negritude”, a autora escreve:

“É importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade. Portanto, frases como ‘eu não vejo cor’ não ajudam. O problema não é a cor, mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir. Vejam cores, somos diversos e não ha nada de errado nisso — se vivemos relações raciais, é preciso falar sobre negritude e também sobre branquitude”.

Ainda que a autora não pretenda esgotar o assunto, acredito que o volume seja uma excelente porta de entrada para quem quer começar a se esclarecer sobre opressão racial e antirracismo e não sabe por onde começar: em cada capítulo, Djamila destrincha uma faceta do racismo, trazendo dados e referências de obras de intelectuais negros. Ela ainda faz questão de incluir uma lista apresentando cada um dos autores citados, para que o leitor possa buscar e aprofundar seus conhecimentos por si só.

Embora curto e sucinto, é o tipo de livro introdutório que deveria ser discutido em escolas e rodas de conversa. E fica a dica: se você quer deixar de reproduzir racismo e ser um aliado de verdade, leia autores negros, ouça o que estão dizendo e se disponha a aprender com eles.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Um pouco de História...




Por que os brancos precisam ser antirracistas
Lilia Moritz Schwarcz
(Antropóloga e historiadora, é professora da USP e da Universidade Princeton (EUA). Autora, entre outros livros, de "Sobre o Autoritarismo Brasileiro", "Brasil: Uma Biografia" (com Heloisa Starling) e "Dicionário da Escravidão e Liberdade") (co-organizado com Flávio Gomes)


À luz da morte de George Floyd nos EUA, antropóloga relembra caso de jovem negro assassinado pela polícia durante a ditadura militar, em São Paulo, o que motivou uma reorganização do movimento negro e manifestação histórica em 1978 contra o racismo e o autoritarismo.

Robson Silveira da Luz foi nosso George Floyd, mas poucos aqui notaram. Floyd trabalhava como segurança em Minneapolis, nos EUA, e foi barbaramente assassinado pela polícia no dia 25 de maio de 2020. Já Robson, que morreu mais de 40 anos antes, aos 27 anos, foi um feirante negro que morava na zona leste de São Paulo.


Junto com alguns amigos, ele voltava de um baile black no dia 18 de junho de 1978, quando decidiu pegar um cacho de banana de um caminhão de frutas, numa feira em Guaianases, onde trabalhava. Preso em flagrante, como mostra o pesquisador Lucas Scaravelli, foi levado pela Polícia Militar para o 44º Departamento de Polícia, do mesmo bairro.


Estávamos no ano de 1978, época da face mais dura e violenta do regime militar. Robson foi torturado e morto por policiais militares que estavam sob a chefia do delegado Alberto Abdalla; nunca mais voltou para casa. A polícia disse à sua mulher, grávida naquela época, que ele “sofrera um acidente”.


Na mesma época, quatro jogadores de vôlei negros foram impedidos de entrar e jogar no Clube de Regatas Tietê por conta de sua cor. A abolição da escravatura havia ocorrido 90 anos antes, mas a cor era (como ainda é) um impeditivo e uma forma de discriminação naturalizada e silenciosa.


O caso de Robson, a discriminação aos atletas e o assassinato de outro cidadão negro, o operário Newton Lourenço, morto pela polícia do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, naquele mesmo momento, não “passaram em branco”. Ao contrário do que se tem dito, os associativismos, o jornalismo e as várias formas de militância negra nunca “estiveram calados”.


A questão é que tem sido muito mal formulada e encaminhada em nosso país: na verdade, quem se calou, sistematicamente, foram amplos setores da sociedade branca e da mídia brasileira. Nos Estados Unidos, os “afro-americanos”, seguindo critérios estatísticos locais, correspondem a 12% da população; aqui, pretos e pardos, nos termos do IBGE, são 56% e, mesmo assim, permanecem ainda muito silenciados por um racismo estrutural e institucional dos mais perversos, porque “naturalizado” no nosso cotidiano.


A falsa coincidência de tantos casos de racismo causou grande comoção entre os militantes negros e negras brasileiros, ainda nos anos 1970. Enquanto a grande imprensa quase ou nada publicou, o jornalista negro Hamilton Cardoso escreveu, naquele mesmo ano de 1978, uma matéria denunciando o assassinato de Robson Luz para o jornal alternativo Versus.


Mesmo sob forte pressão, a mobilização negra não desapareceu no período da ditadura. Em São Paulo, no ano de 1972, e como mostram Petrônio Domingues e Mário Augusto Medeiros, era muito atuante o Centro de Cultura e Arte Negra (Cecan). Também a imprensa negra estava viva em São Paulo, a partir de jornais como Árvore das Palavras (1974), O Quadro (1974), Biluga (1974) e Nagô (1975), que alcançavam da capital aos municípios.


No Rio de Janeiro, a partir de 1975, jornais como Simba (Sociedade Intercâmbio Brasil-África), o IPCN (Instituto de Pesquisas das Culturas Negras) e o Ceba (Centro de Estudos Brasil-África) mantinham-se particularmente ativos. No Rio Grande do Sul, o Tição (criado em 1977) continuava na luta.


Nessa mesma época, surgiram movimentos com perfis diferentes, mas que engrossavam a resistência negra, como o Ilê Aiyê, ou simplesmente Ilê, o mais antigo bloco afro do carnaval baiano, cuja criação data de 1974.


De toda maneira, esses episódios, ainda pouco conhecidos e divulgados na história brasileira, acabaram se transformando num estopim para a (re)organização das lideranças negras de São Paulo no final da década de 1970.


As repercussões e a revolta diante do assassinato de Robson Silveira da Luz foram motivo para uma reunião promovida, ainda em junho de 1978, com diversos grupos e entidades negras, tais como o Cecan, o Grupo Afro-Latino-América, a Câmara do Comércio Afro-Brasileiro, grupos de atletas e artistas negros e outros. Foi nessa ocasião que se decidiu criar o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR), que deveria organizar um ato público contra o genocídio da população negra e denunciar episódios de racismo.


No dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo, reunindo organizações culturais, entidades negras e representantes de vários estados, foi criado um movimento com características nacionais.


Logo no momento de formação da entidade foi adicionada a palavra negro; assim, o grupo político passou a ser designado como Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR), posteriormente simplificado para Movimento Negro Unificado (MNU). Vale a pena destacar que o MNU lutava por democracia em plena vigência do regime militar e com uma dupla missão: denunciar a existência do racismo e criar estratégias para combatê-lo.


Assim, se parte da população brasileira, branca e privilegiada, acreditava que havia racismo nos EUA, mas não por aqui, a organização, para se contrapor, mostrava que uma possível redemocratização teria que passar pelo combate e pela denúncia ao racismo.


Aos que pensam que a repressão atingiu basicamente a classe média branca engajada, é bom salientar que a ditadura militar vinha, também, prendendo vários militantes e jovens negras e negros, bem como tentando, sistematicamente, esvaziar qualquer pauta contra o racismo.


Em primeiro lugar, buscava estigmatizar e deslegitimar os ativistas, chamando-os de cópias dos movimentos norte-americanos. Em segundo, fazia-se contrapropaganda, exaltando uma pretensa democracia racial brasileira. Em terceiro, assim como hoje chamamos de torcedores aqueles ativistas negros que se manifestam nas avenidas contra o autoritarismo do governo, naquele tempo se procurava desqualificar o movimento a partir de atributos que desfaziam da sua autenticidade.


A manifestação histórica de 7 de julho de 1978 rompeu, assim, com o suposto silêncio dos grupos negros impostos pela ditadura militar. Nesse evento, estavam presentes cerca de 2.000 pessoas que protestavam contra os episódios de violência contra negros em São Paulo e contra o genocídio negro de uma forma geral.


Lá estavam muitos negros e negras anônimos, jovens que curtiam os bailes de soul music —os bailes black de São Paulo—, mas também operários, estudantes, jornalistas, artistas, atletas, trabalhadores do comércio e lideranças sindicais e de associações e várias lideranças negras, entre os quais Neuza Pereira, Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei José Maria, Milton Barbosa, Rafael Pinto e Jamu Minka.


O protesto teve o apoio de entidades de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro. Prisioneiros da Casa de Detenção enviaram um documento de apoio ao movimento, e, desde então, a data entrou para o calendário das lutas contra a discriminação racial. Em novembro daquele ano, o Movimento Negro Unificado participou do 1º Congresso Nacional pela Anistia, denunciando a violência policial contra os negros no Brasil, as condições sub-humanas da população carcerária e as torturas existentes nos presídios.


Levou muito tempo, mas depois do período da redemocratização, o delegado Alberto Abdalla, responsável pela prisão de Robson, foi condenado pela morte do jovem, juntamente com outros policiais, mas não foi jamais punido.


Já Robson da Luz virou símbolo da luta contra o genocídio negro, ao mesmo tempo que o MNU se tornou uma organização nacional e um dos vários movimentos sociais de negros e negras hoje atuantes em defesa da igualdade racial e dos direitos dessa população. O assassinato de Robson se transformou em mote, igualmente, para uma série de denúncias contra o “esquadrão da morte”, a “polícia mineira” e o “mão-branca”, sinônimos de extermínio de negros no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980.


No entanto, se Robson virou ícone, até hoje pouco se sabe de sua vida. Essas são perversas invisibilidades, num país que continua a matar nas grandes periferias do país gerações de jovens negros de baixa renda que muitas vezes não conseguem sair do anonimato que lhes é impingido pelos números frios da polícia.


Essa é também uma velha/nova história que faz da branquitude uma espécie de código partilhado, um lugar de privilégio daqueles que sistematicamente solapam e impedem que essas populações ocupem lugares de poder, façam parte das universidades, estejam presentes na liderança do ambiente corporativo, atuem nas Redações e nos demais ambientes de trabalho.


Hoje, os brasileiros até admitem que há racismo no país, mas ninguém admite ser racista ou conivente com uma estrutura que sistematicamente discrimina negros e negras nas áreas da saúde, da educação e do trabalho. De tão naturalizado, há quem finja não enxergar esse sistema persistente de subordinação.


Quem inventou o racismo foi a sociedade branca. Portanto, cabe a nós brancos nos associarmos, como aliados, à luta antirracista — termo proposto por Angela Davis e, no Brasil, difundido por Djamila Ribeiro — e não permitir que denúncias como o assassinato de crianças como Ágatha, João Pedro e Miguel “caíam no vazio”.


No mundo todo estão ocorrendo manifestações contra o racismo que defendem a democracia. Falta a boa parte dos brasileiros —aqueles entre nós que desfazem dos debates sobre ação afirmativa e cotas, negam o racismo e, em seu lugar, advogam uma suposta meritocracia e universalidade sem notar que esses conceitos dizem respeito a uma realidade majoritariamente branca e europeia— entender que não existe democracia com racismo, como bem mostraram Silvio Almeida e Flávio Gomes.


O racismo não é um problema exclusivamente dos negros —faz parte de uma agenda republicana brasileira. Perpetuando continuamente a discriminação, as elites brancas brasileiras se equilibram entre a cegueira social e uma forma de amnésia coletiva. Para o racismo não há desculpa.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 14 de Junho de 2020

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Dia dos Namorados com Dicas de Leitura



Nesse Dia dos Namorados, "Nas Asas da Leitura" traz para vocês três dicas de romances para comemorar que o amor está no ar! 💕💕💕






Como eu era antes de Você consegue nos levar para dentro da vida de personagens “reais”, nos fazendo questionar várias atitudes que temos no dia a dia, e fazendo-nos refletir sobre a solidariedade, sobre a amizade, e sobre o amor verdadeiro – principalmente até onde conseguimos ir em nome desses sentimento. Ou seja, simplesmente trata-se de um livro maravilhoso e apaixonante!
Louisa Clark é uma mulher de 26 anos que ainda mora com os pais, trabalha como garçonete em um café em uma pequena cidade na Inglaterra e tem um relacionamento de quase sete anos, mas sem muito envolvimento, com Patrick, um atleta completamente obstinado. Totalmente acomodada à sua vida ela não tem ambições, de forma que seu maior desejo é que as coisas continuem exatamente como estão. No entanto ela vê sua vida de cabeça para baixo quando o dono do café onde trabalha decide fechá-lo. Sem estudo e sem saber fazer outra coisa na vida, a única opção de emprego que Lou encontra é como cuidadora de um tetraplégico. 
Will Traynor é um homem de 35 anos que viu seu mundo girar completamente dois anos antes, quando uma moto o atropelou e o deixou tetraplégico. Inteligente, culto, porém extremamente amargurado e mal humorado, Will não aceita sua nova condição pós-acidente – o que só começa a mudar quando Clark passa a trabalhar em sua casa.




Uma trágica morte atinge a família de Layken, uma adolescente de 18 anos, que além de ter que passar por todos os problemas que adolescentes comuns têm, agora ela terá que ajudar sua mãe e seu irmão mais novo superar essa nova barreira.
Para piorar, por causa da situação financeira, a família de Lake terá que se mudar para Michigan, deixando pra trás todas as lembranças de seu pai e de sua infância que ela tinha daquela casa no Texas, por causa disso ela vai para a nova casa muito brava e certa que a vida é injusta demais.
Ao chegar, ela conhece Will Cooper, seu novo vizinho de 21 anos que além de ser interessante, é um garoto extremamente atraente. Logo descobrimos um pouco sobre a vida de Will, e vemos que ele também teve que “crescer” rápido demais.
Apesar do foco do livro ser a história de amor do jovem casal, ele também nos mostra como uma mãe age após a perda do marido, Julia, mãe de Lake tem muito a ensinar para sua filha e para nós leitores. Kel o irmão mais novo de Lake logo faz amizade com o irmão de Will, Caulder, e eles são duas crianças fortes, que se unem após serem arrebentados pelo destino. Mas como um bom romance, logo no começo do livro surge uma pitada de confusão para deixar essa história ainda mais apaixonante.




A narrativa gira em torno da história de Abby, uma jovem forte e determinada que para fugir de seu passado e a fim de cursar a universidade, se mudou com a melhor amiga para uma nova cidade. Diferentemente do que aparenta a sinopse do livro, Abby não é “a boa moça em busca de sossego”, ela evita se meter em confusões porque não quer mais problemas do que já tem, mas isso não está diretamente relacionado com sua personalidade. Entretanto, por mais que ela tente evitar, se mete em uma baita confusão ao conhecer Travis, primo e melhor amigo do namorado de America, sua melhor amiga. O convívio entre eles é forçado pela proximidade que ambos nutrem do casal, e assim, quando menos percebem, estão mais envolvidos do que poderiam imaginar. O problema é que Travis, quando o assunto é mulheres, é um baita de um canalha, e Abby não quer se aproximar dele para não dar esperanças de que um dia ele poderia ter algo com ela. Deixando isso claro para ele logo de início, ela passa de um desafio para uma boa companhia, fazendo com que o sentimento de união e amizade entre eles cresça de uma forma perceptível apenas aos olhos de quem lê, e é exatamente nesse ponto que compreendemos a confusão em que Abby se meteu, a amizade é forte demais, a proximidade é intensa demais e o Travis, bem, ele é envolvente demais. Com uma história repleta de “demais e porquês” fica quase impossível esperar que Abby resista ao Travis, não concordam? Contudo, não tirem conclusões precipitadas, as coisas não são tão simples quanto parecem, principalmente quando falamos do indecifrável sentimento que une Abby e Travis.
A relação de amizade versus desejo que permeia a trama pode parecer clichê em um primeiro instante, mas esse não é o enfoque do livro e exatamente por isso ele é tão charmoso. Em Belo Desastre nada é previsível, a cada nova página surgem novas surpresas, novas emoções e novas paixões. Além do possível romance, lemos sobre um forte drama familiar, vemos aos poucos, mistérios sendo revelados e torcemos a cada instante não apenas para que o casal obtenha um final feliz, mas também para que eles sejam fortes o suficiente para superar seus medos, dúvidas e barreiras impostas pelo tempo. Dessa forma, os personagens secundários fazem uma grande diferença na trama, que com uma riqueza de personagens, mistérios e emoções, permite que as páginas do livro transmitam os mais variados sentimentos: Amor, raiva, medo, desconfiança, são tantas emoções narradas que facilmente nos perdemos repetidas vezes no agitado tornado de palavras que é o livro Belo Desastre. Ele é como um copo de água gelada depois de horas de caminhada no deserto, quem liga para o possível choque térmico causado, quem liga para a necessidade iminente de poupar água para depois, o importante é matar a sede. E é exatamente assim que lemos esse livro, com uma sede de palavras, de capítulos, de novos mistérios, de novos beijos e de mais, sempre mais, paixão.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Umas inspirações filosóficas para vocês!

Considerado um dos mais influentes filósofos chineses de todos os tempos, Confúcio (551 a.C - 479 a.C) continua a ser um exemplo de moralidade pessoal. Seus pensamentos se traduzem em importantes lições de valores, como a justiça, a sinceridade, a ética e a honestidade.
As reflexões de Confúcio têm mais de 2 mil anos, mas continuam tão contemporâneas como nunca! Não importa se você é do oriente ou do ocidente, deveria conhecer as lições que este sábio chinês deixou para a humanidade.

1. Seja coerente

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Aja antes de falar e, portanto, fale de acordo com os seus atos.
Confúcio
Quantas vezes você já fez promessas que nem sequer pensava em cumprir? Falar é muito fácil, isso qualquer pessoa pode fazer, mas agir já é outra história... Por isso, faça com que as suas ações correspondam ao que você fala.
Não tente pregar um discurso e não segui-lo na prática. Seja fiel aos seus compromissos e responsabilidade, isto é importante para manter a sua dignidade e respeito próprio.

2. Compreendendo o que passou para encarar o que está por vir

A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.
Confúcio
Ao longo da nossa existência aprendemos a lidar com os altos e baixos da vida (pelo menos é esperado que façamos isso). A experiência é formada a partir da reflexão que fazemos das situações passadas. A partir de então, estaremos preparados para enfrentar episódios semelhantes no futuro.
No entanto, por mais experiente que nos tornemos, nunca estaremos 100% preparados para coisas inesperadas ou inéditas. Por esta razão, tenha a consciência de que nunca sabemos demais, nunca estamos totalmente prontos, sempre tem algo a ser aprendido.

3. Fique longe da deslealdade e falsidade

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Coloque a lealdade e a confiança acima de qualquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus erros.
Confúcio
Saber reconhecer os erros e corrigi-los é metade do caminho para saber viver uma vida com mais sabedoria. Não tenha vergonha ou receio de se desculpar!

4. Construindo um mundo melhor

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A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros.
Confúcio
Se cada ser humano ajudar a construir a felicidade alheia, finalmente teríamos um mundo onde a paz estaria livre para reinar.

5. A verdadeira sabedoria

O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.
Confúcio
"Aquele que tudo sabe, nada sabe", já diria o provérbio chinês que, muito provavelmente, está baseado nos pensamentos de Confúcio.
O verdadeiro saber está em aceitar que não somos conhecedores de todas as verdades do mundo. Ter a humildade de reconhecer a ignorância é um grande gesto de sabedoria.

6. Só leio verdades...

confucio4
De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.
Confúcio
Por mais incentivo e auxílio que você dê para alguém, ela somente conseguirá atingir os seus objetivos ou "sair do fundo do poço" se tiver a força de vontade necessária para isso.

7. Evite este erro

confucio5
Não corrigir as próprias falhas é cometer a pior delas.
Confúcio

8. Evitando frustrações

Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos.
Confúcio
confucio - pensador

9. Acabe com os seus "monstros"

confucio6
É mais fácil vencer um mau hábito hoje do que amanhã.
Confúcio
Adiar soluções é o mesmo que nutrir os vícios, fortalecendo-os com a constante procrastinação. Não deixe que seus "monstros" cresçam, elimine-os de imediato para evitar que dominem por completo a sua vida!

10. Você sabe manter um segredo?

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O silêncio é um amigo que nunca trai.
Confúcio
Por isso, às vezes, mais vale confiar na sua discrição e sigilo do que em qualquer outra pessoa.

11. Vivendo na Geração Y

Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.
Confúcio
O trabalho é interpretado como uma "obrigação", quando este não desperta prazer ou se distancia totalmente dos interesses pessoais dos profissionais.
Você será muito mais feliz, sem sombra de dúvidas, se se dedicar a fazer aquilo que gosta. Desta forma, a probabilidade de alcançar o sucesso profissional e a satisfação pessoal é quase certa!

12. Não coloque o carro na frente dos bois!

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Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.
Confúcio
De fato, qual a razão de ficarmos constantemente preocupados com a morte? Devemos concentrar toda a nossa energia e tempo em tentar resolver os problemas que surgem ao longo da vida (e olha que não são poucos...).

13. Não seja um covarde

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Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem.
Confúcio
Em outras palavras: covardia!

14. Conhecendo os verdadeiros amigos

Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.
Confúcio
amigas de verdade

15. Autoconhecimento é fundamental

Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.
Confúcio
Antes de julgar e "atirar pedras", esteja atento a examinar as suas ações. Será que não é tão diferente da pessoa que critica?

16. Aos poucos fazemos a diferença

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Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.
Confúcio
Por mais que seja pouco, fazer alguma coisa em prol de seus objetivos é melhor do que fazer nada.

17. Adaptação

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Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.
Confúcio
Não podemos ser rígidos com a vida, mas sim ter a capacidade de nos adaptarmos as mais diferentes situações. Nem sempre as coisas saem como planejamos, mas isso também não significa que devemos desistir. Se reorganize e continue a caminhada!

18. Quem você acha que é?

Somente os extremamente sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam.
Confúcio

19. Não pare

Não importa o quanto você vá devagar desde que não pare.
Confúcio
Desistir é a certeza absoluta do fracasso.

20. Compartilhe ideias

confucio12
Se você tem uma laranja e troca com outra pessoa que também tem uma laranja, cada um fica com uma laranja. Mas se você tem uma ideia e troca com outra pessoa que também tem uma ideia, cada um fica com duas.
Confúcio
Fonte: O Pensador