Com a proposta de um “suspense nostálgico”, o livro A Última Festa  questiona até onde você conhece o outro, ainda que o chame de amigo. E o resultado é eletrizante.

Um grupo de amigos composto por nove pessoas, sendo quatro casais e uma amiga solteira, sempre se reúne para comemorarem juntos o fim do ano. Tem sido assim desde que se formaram na Universidade de Oxford, em Londres, onde se conheceram. Com exceção apenas de dois cônjuges que chegaram pouco depois. Mas são um grupo muito coeso e se orgulham em ser assim.

“Antes de ir para lá ele fez uma coisa terrível. Mais de uma, na verdade.”

LUCY FOLEYEsse ano, Emma é a responsável pela organização e ela é uma das que chegou depois, a última por sinal. Sentindo a pressão, queria que fosse algo perfeito e conseguiu uma hospedagem exclusiva e extremamente isolada na Escócia. Seriam apenas eles! Mas esse grupo tão fechado esconde segredos que vão resultar em uma morte. Um assassinato entre eles! Presos em um lugar afastado, é preciso agora correr contra o tempo e entender tudo que aconteceu para descobrir quem é o culpado.

De cara eu já preciso dizer a vocês que esse livro tem uma narrativa muito viciante. Primeiro porque ele aborda segredos dentro de um grupo fechado de pessoas, o que amplifica a reação do leitor que já se familiarizou com os personagens e suas características. E segundo porque ele apresenta a visão de cinco personagens, que se alternam e se complementam em acontecimentos de antes e depois do crime. E antes que você pense que possa ter ficado cansativo, te asseguro que não é o caso. Me peguei várias vezes torcendo pela troca de abordagem, pois queria ver a continuação pela outra personagem.

“- …acho que eu não contaria. Mas não posso prometer. Talvez seja revigorante pra todos nós. Mostrar que vocês não são tão perfeitos quanto acham que são.”

A ÚLTIMA FESTA - LUCY FOLEY

A proposta geral do livro é muito interessante. O grupo de amigos nos é apresentado como exemplar e isso na verdade não passava de uma fachada para suas falhas e fraquezas. Não é difícil, no começo, querer fazer parte daquele bem sucedido e feliz grupo que se encontra todo fim de ano em um lugar paradisíaco para celebrar a vida!

Mas ao conhecer individualmente cada um… São belezas rasas, egoístas, mesquinhos, agressivos, uns nutrem paixões secretas pelos outros, falam mal pelas costas… e até matam! Amizades tóxicas existem e muito, e “A Última Festa” mostra de forma magistral como isso pode acontecer. Às vezes por insistência em semelhanças que já passaram, apego a anos anteriores e medo de envelhecer ou até mesmo por rotina e hábito.

Não é possível dar muitos detalhes sobre a história em si e sobre o que acontece após a chegada do grupo nesses chalés isolados em meio à floresta, cobertos por neve. Todos os inúmeros conflitos e reviravoltas que acontecem tem impacto direto na investigação do leitor, então é melhor que receba esse grupo e toda sua complexidade sem saber a que ponto podem chegar e de quem devem desconfiar.

“- Todo esse tempo, fiquei do lado dele. Desde Oxford. Cuidando dele, acobertando ele, se necessário. Estou de saco cheio. Não vou mais mentir.”

Por falar em investigação do leitor, se o seu coração é fraco e ansioso, se prepare. Até faltar 40 páginas (!!!) para acabar o livro eu não sabia com certeza quem tinha morrido, logo não dá para saber quem matou. Como uma super fã de thrillers, eu sempre me orgulho em adivinhar finais, mas nesse não foi bem assim.

Até a metade eu não tinha ideia de quem morreria, então tinha uma lista imensa de suspeitos e seus motivos. No entanto, comecei a desconfiar de três possíveis mortos, logo seus possíveis assassinos. Quase no final eu já estava tensa, quase certa da vítima mas completamente errada sobre motivação. Um livro já me fez desconfiar de mais um assassino antes, mas de mais de uma vítima até o final foi a primeira vez.

Enfim, deixo a vocês a indicação de “A Última Festa” como um thriller viciante e cheio de situações do cotidiano levadas ao extremo. Com pessoas com falhas humanas e erros ampliados pelo fato de insistirem em uma amizade que talvez não estivesse fazendo tanto bem assim. E quem nunca, não é mesmo? Insistiu em um vínculo fadado ao fracasso pelo receio do rompimento? Bom, nesse caso aqui, o resultado foi uma desastrosa festa de Réveillon…

Fonte: Coisas de Mineira