sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Então é Natal - Papai Noel às Avessas


O poema “Papai Noel às Avessas” apresenta um Papai Noel “torto", que entra pelos fundos, rouba os brinquedos das crianças adormecidas, vive num mundo torto, avesso, marcado pelas relações burguesas de aparências, que se caracterizam pelo desencontro, pelos obstáculos e afastamentos:

Papai Noel às Avessas
Carlos Drummond de Andrade

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

Este poema foi publicado no livro “Alguma Poesia”, Editora Pindorama, em 1930, primeiro livro do autor. Texto extraído de “Nova Reunião”, Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1983, pág. 24.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Então é Natal - Organiza o Natal

Uma crônica de Drummond para vocês...


Organiza Natal

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal.

É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito.

E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon - sem cortinas.

Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade.

Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio.

O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso.

A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.


A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido.

Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.



(Carlos Drummond de Andrade - Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço")

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Um novo Projeto nascendo...

Então é Natal!



Para darmos início a esse Projeto, hoje postarei o conto "Milagre do Natal", de Lima Barreto, sugerido pela Professora Joelma, de Língua Portuguesa, inclusive já trabalhado nas 3ª Séries!

Presenciamos no conto o triângulo amoroso entre Simplício, Mariazinha (filha do casal Feliciano e Sebastiana) e Guaicuru. Também podemos encontrar vários dos assuntos que Lima Barreto sempre aborda em seus textos, como a mania que os brasileiros têm em fazer parte da elite, burocracia indevida e casamento por interesse.


E você, tem sugestões? Quer publicar algo de sua autoria no Blog? É só nos procurar, como está escrito no folder do evento! 😉

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Novembro Consciente em Vídeos - O Dia da Consciência Negra

A Importância da Data

A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia que devemos comemorar nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira.

Para comemorar o Dia da Consciência Negra, o Centro de Ensino Médio de Taguatinga, no Distrito Federal, investiu em projetos que resgatam a cultura africana, como vocês podem assistir no vídeo a seguir:



Atente-se ao falar:




quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Novembro Consciente em Vídeos - Conversa com Estudantes

Agência Brasil conversa com estudantes sobre a Semana da Consciência Negra

Ainda com a sugestão da Professora Letícia, de Sociologia, essa postagem de hoje traz um vídeo que, "apesar da inclusão, a população preta e parda não se vê representada. A Agência Brasil coletou depoimentos de estudantes sobre a percepção geral sobre o ensino superior no Brasil e sobre a Semana da Consciência Negra."





sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Novembro Consciente em Vídeos - Lápis Cor da Pele?

Dúdú e o Lápis Cor da Pele


Dudu é um garoto negro, inteligente e imaginativo, estudante de um colégio particular da classe média de São Paulo. Durante uma aula de educação artística, sua professora, Sônia, diz a ele que utilize o que ela chama de "lápis cor da pele" para pintar um desenho. A frase desperta em Dudu uma crise de identidade. Com toda a inocência de uma criança da sua idade, Dudu passa a carregar o lápis em questão consigo para encontrar alguém que possa sanar seus questionamentos. Sua mãe, Marta, logo percebe e resolve ir até a escola da criança tomar satisfações sobre o ocorrido. A professora justifica-se dizendo que falou de forma automática, sem pensar. No meio da discussão, Dudu foge, levando consigo seu "lápis cor da pele". Sua mãe e sua professora passam a procurá-lo desesperadamente. Passa por diversos lugares da cidade até encontrar Madalena, uma antropóloga e curadora de arte. Madalena e Dudu criam uma empatia imediata e mútua e ela, através do seu conhecimento, mostra ao garoto o quanto a raça e a cultura negra são importantes. Madalena conta a Dudu que seu nome (Dúdú) em lorubá significa negro. Dudu identifica-se com as coisas que Madalena diz a ele e desenvolve um sentimento de orgulho por sua raça. Ele resolve que a partir daquele dia não quer que o chamem por seu nome - Eduardo - e sim por Dúdú.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Novembro Consciente em Vídeos - Os Africanos

Raízes do Brasil

Como sugestão da Professora Letícia, de Sociologia, nessa semana, serão apresentados vídeos sobre o tema abordado nesse Novembro Consciente!

No vídeo de hoje, vamos conhecer melhor nossas raízes africanas e seu papel na formação da identidade brasileira.




Fique por Dentro!



sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Novembro Consciente - O Advogado dos Escravos

O Advogado dos Escravos - Luiz Gama pelo autor Nelson Câmara


O Advogado dos Escravos, um menino baiano, filho de um fidalgo com uma africana rebelde, foi vendido como escravo pelo pai, reconquistou a liberdade, serviu ao exército, trabalhou como escrevente de polícia, foi impedido (pela cor) de cursar a faculdade, mas ainda assim tornou-se poeta, jornalista e advogado. Embora sem diploma e anel, conseguiu resgatar 500 negros da escravidão em pleno Brasil imperial. Novela das seis? Ficção? Parece, mas esse menino existiu, chamava-se Luiz Gama e este ano, 180 após o seu nascimento e 128 da morte prematura, por diabetes, ganhou novas biografias, que resgatam a história de suas heroicas batalhas em defesa da liberdade nos tribunais.

O advogado dos escravos, escrito pelo também advogado paulista e mestre em Direito do Trabalho, Nelson Câmara, é um tributo às contribuições de Luiz Gama tanto para as causas da abolição e da proclamação da república, quanto para a história do próprio direito brasileiro. Aos aficionados por história, o livro traz um panorama do funcionamento do judiciário durante o segundo império e reúne farta documentação até então ainda não publicada sobre a vida de Gama.

Os pedidos de habeas corpus impetrados pelo chamado “apóstolo negro da abolição” em defesa dos cativos que batiam à sua porta pedindo ajuda; trechos dos seus discursos em defesa daqueles que por revolta tinham assassinado os senhores – ficou famosa a frase em que afirmava “Perante o Direito, é justificável o crime do escravo perpetrado na pessoa do senhor” -, os embates ideológicos em reuniões do partido republicano, a amizade com Castro Alves e Rui Barbosa, mais fotos e gravuras; além de cronologia e dos dados biográficos, completam o volume de 316 páginas, desdobramento de uma obra anterior de Nelson Câmara sobre a escravidão no império de D. Pedro II.

Filho de rebelde Em O advogado dos escravos, está publicada também a íntegra da carta autobiográfica que Luiz Gama endereçou a um amigo, dois anos antes de morrer. No documento, ele conta que nasceu em Salvador, em um sobrado na freguesia de Santana, em 1830. Era filho da líder rebelde Luiza Mahim, envolvida na Bahia em diversas rebeliões como a Sabinada e a Revolta dos Malês. Seu pai, que ele nunca revelou quem era, tinha origem nobre, mas dilapidou a fortuna no jogo e na bebida, vendendo o filho para saldar dívidas.

O livro aborda não somente a questão abolicionista, mas revela com primor a sensibilidade de Luiz da Gama, que em muitos momentos não traz a amargura de um escravo, mas a sensibilidade que poucos possuem ainda hoje. Além dos documentos de época, que são verdadeiras relíquias. Um livro fantástico e emocionante, o autor tem durante o livro uma dimensão de muitas faces de Luiz da Gama e em cada uma delas revela também a sua própria sensibilidade, conduzindo divinamente toda a história e no final o que temos é um exemplo de brasileiro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Novembro Consciente - O Sol é Para Todos

O Sol é Para Todos


A escritora americana ganhou o Prêmio Pullitzer de Ficção em 1961 por causa dessa obra. O livro O Sol é Para Todas ficou em primeiro lugar na pesquisa na América do Norte, mas também é um dos maiores clássicos da Literatura Mundial.

Apesar de ser contado por uma criança o livro é crítico, e aborda as injustiças de um julgamento no tribunal do júri em que os jurados movidos pelo clamor público e pelo preconceito enraizado da região condenaram o acusado, um negro, pelo crime de estupro.

A história é sobre um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca na década de 1930 nos Estados Unidos. Por essa breve sinopse é possível perceber que o tema central da obra é o racismo e a injustiça social

A narradora da história é a filha do advogado, uma criança de menos de 10 anos que percebe o contraste social e o preconceito do Sul dos EUA. O negro fora acusado injustamente por estupro com uso de violência, crime este que poderia levá-lo à pena de morte. A sociedade da época, extremamente preconceituosa e racista, já o considerava culpado antes mesmo de acontecer o tribunal do júri. Como foi nos EUA o crime foi para júri. O acusado ficou preso até o julgamento e após os jurados o condenar retornou à cadeia, mesmo com a brilhante defesa de seu advogado, que acreditava fielmente em sua inocência. Assim, os jurados, movidos pelo clamor público e pelo preconceito enraizado da região, condenaram o acusado pelo crime de estupro.

O advogado Atticus o visita na prisão e diz que continuará com sua defesa para o Tribunal Superior e pedir sua liberdade ou um novo júri, porém não tinha como garantir as coisas. O advogado então pede calma ao acusado e diz que está fazendo o possível para sua libertação ocorrer, porém, não podia dar certeza das coisas, o que fez o acusado ficar desiludido e cansado. Tom Robson, desacreditado da "justiça", tenta fugir, e no momento da fuga, uma desgraça acontece.

Tom Robson era visto por todos da penitenciária como qualquer outro detento, ou seja, como culpado, como bandido, como estuprador, mesmo sendo inocente.

A autora do livro, Harper Lee, mostra a dificuldade dos filhos do advogado, duas crianças, de entenderem como pode um homem branco condenar um homem pela sua cor de pele, tendo uma delas exclamado: "Será que elas não pensam que podiam ser elas no lugar dele? Será que não pensam que poderiam também estar sofrendo esta injustiça? Onde está o erro meu pai?! Porque o promotor olha com desprezo para o réu com olhar acusatório? Porque os jurados que julgam e não o juiz? Seria o caso de termos mudanças legislativas?" - Levando os leitores a inúmeras reflexões. Os filhos do advogado assistem ao júri e torcem pela brilhante defesa do pai e almejam como o pai a inocência do acusado.

O livro, como já dito, é contado por uma criança, mas uma criança observadora, crítica e que não é preconceituosa, nem racista e que acredita sim, que o sol deve ser para todos!
Fonte: Ana Garcia OABDF



quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Novembro - Mês da Consciência Negra - Zumbi dos Palmares

Zumbi dos Palmares


Para dar início a essa temática, começamos com ele, que é um importante representante do assunto tratado.

Quem foi Zumbi?

Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver. 

Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo. 

No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados. 

Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as tropas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares. 

O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695. 

A Importância de Zumbi para a História do Brasil

Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

Você também pode conhecer a História de Zumbi dos Palmares em HQ!
Aproveite a leitura!