sexta-feira, 29 de maio de 2020

Um Romance e Fatos Históricos



Quer uma dica de livro? 






Eis minha sugestão da vez: "O Tempo Entre Costuras", da escritora espanhola, Maria Dueñas. 

Sinopse

Sira Quiroga é uma simples costureira espanhola, filha de mãe solteira, sem grandes ambições. Seu namorado gentil e apaixonado, Ignacio, logo a pede em casamento, mas uma paixão avassaladora por outro homem, Ramiro, faz com que ela rompa seu relacionamento e vá embora com o amante para o Marrocos. Antes da partida, Sira conhece seu pai e recebe dele uma herança. E no novo país Ramiro aplica-lhe um golpe. Sozinha, assustada e sem recursos, a moça ganha, por caridade, um quarto na pensão da muambeira Candelária, e é essa nova amizade que propõe um negócio ilegal e perigoso para conseguir dinheiro e recomeçar a vida. Quando tudo parece estar no eixo, uma reviravolta muda tudo outra vez.

A obra mistura personagens fictícios e reais relacionados a dois fatos históricos - a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) - e cria tramas de suspense, segredos e aventuras, em cenários que passam por Madrid, Marrocos e Lisboa. 

A trama é tão bem construída, que em 2013, se transformou em uma série de dezessete episódios para um canal espanhol que está disponível na Netflix com o mesmo nome do livro.

Vale a leitura!

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Projeto de vida: Medicina!



Para você, que tem como Projeto de Vida fazer faculdade de Medicina, hoje o Blog traz 6 documentários para quem quer seguir essa carreira.
Além de mostrar a realidade da profissão em diversas regiões, as obras trazem à tona os desafios da área.
Quem sonha em fazer Medicina, ou já está exercendo a profissão, sabe que existem algumas características muito importantes nessa área, como responsabilidade, ética, atualizar-se sobre novos estudos e técnicas, dedicação e respeito pelo próximo. Desde o momento do vestibular até você poder exercer a profissão dentro da sua especialização, o caminho é longo e os desafios são muitos. 
Confira:

Drauzio em Campo: Líbano e Jordânia

Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, apresenta esta série documental com três episódios. Convidado pelos Médicos Sem Fronteiras (MSF), Varella foi até as instalações do programa no Líbano e Jordânia para conhecer de perto o sofrimento vivido pelas vítimas da Guerra da Síria e o trabalho dos profissionais da área de saúde em prol da população. A ideia foi mostrar as dificuldades das famílias da região, as situações de vulnerabilidade na saúde e as mutilações causadas pelos conflitos.

Disponível aqui.

Médicos Cubanos

O documentário Médicos Cubanos acompanha a trajetória de três profissionais que atuam no Mais Médicos: a cubana Dalis Lopez, o também cubano Félix Baex e o venezuelano Oscar Alonso. A obra analisa a atuação desses três médicos para mostrar como o programa de fato funciona.

Disponível aqui.

A Vida em Movimento

Em A Vida em Movimento, o preparador físico e estudioso de questões ligadas ao sedentarismo Márcio Atalla discute o estilo de vida pós-moderno e as complicações causadas pela falta de movimento cotidiano que ameaçam a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas em diversos países. Considerando a realidade brasileira, Atalla levanta alternativas e reflete sobre novas políticas de combate ao que ele chama de “epidemia silenciosa” do séc 21.

Disponível aqui.

The English Surgeon

Este documentário apresenta a vida do neurocirurgião inglês Henry Marsh em um hospital ucraniano e sua luta contra a burocracia para tratar de pacientes com tumor cerebral. Além de levantar uma série de discussões sobre o tema, a obra mostra a realidade do médico dentro da sala de cirurgia.

Disponível aqui.

Extremis 

Indicada ao Oscar de melhor documentário de curta-metragem em 2017, a obra mostra uma série de dilemas, dificuldades, sofrimentos e decisões importantes que médicos, pacientes e familiares enfrentam na UTI de um hospital. 

Disponível aqui.

Operação Enganosa

Apesar da tecnologia na indústria de artefatos médicos ter trazido muitos benefícios à medicina, o documentário Operação Enganosa mostra que certas decisões inovadoras podem trazer muitos riscos e consequências aos pacientes. O filme revela as histórias de vítimas da tecnologia usada inadequadamente no setor e expõe grandes corporações.

Disponível aqui.


sexta-feira, 22 de maio de 2020

LIVROS, CÂMERA, AÇÃO!




Há histórias que são tão marcantes que acabam saindo das páginas dos livros direto para as telas do cinema! 


Para aproveitar o Feriado que vem aí, deixo a vocês três dicas de livros que viraram filmes. Que tal escolher um deles (ou todos) para comparar suas diferenças com a sétima arte?









Esse livro surpreendeu a todos porque em pouco tempo já estava na lista dos mais vendidos e com um roteiro pronto para o cinema. A importância do sucesso se deve por contribuir na conscientização sobre pacientes que lidam com a fibrose cística, uma doença crônica e genética. Segundo Rachael Lippincott, a autora, a escolha do público jovem ocorreu por ser uma literatura que interage e multiplica ideias com pessoas de todas as idades.
Como exemplo dessa multiplicação, a personagem principal, Stella, possui um canal no youtube onde relata o dia a dia do tratamento e os cuidados para conseguir novos pulmões. Para evitar infecções, ela deve manter uma distância de cinco passos de outro paciente que também possui a doença, Will, o qual participa de um tratamento experimental. A doença acaba unindo os jovens e o limite da distância torna-se desafiador para ambos.
O filme, dirigido por Justin Baldoni, estreou em março de 2019 e é indicado para os fãs de A Culpa é das Estrelas. 
Prepara o lenço e as emoções!







Romance de estreia de Josh Malerman, “Caixa de Pássaros” é um thriller psicológico tenso e aterrorizante, que explora a essência do medo. Uma história que vai deixar o leitor completamente sem fôlego mesmo depois de terminar de ler. Basta uma olhadela para desencadear um impulso violento e incontrolável que acabará em tragédia. Ninguém é imune e ninguém sabe o que provoca essa reação nas pessoas. Cinco anos depois do surto ter começado, restaram poucos sobreviventes, entre eles Malorie e dois filhos pequenos. Ela sonha em fugir para um local onde a família possa ficar em segurança, mas a viagem que tem pela frente é assustadora: uma decisão errada e eles morrerão.






A história divide opiniões, pois olhada de um ponto de vista inicial, é um romance adolescente. Mas quem nunca esteve na pele de Lara Jean alguma vez na vida, por um amor não correspondido? O que deve ser enxergado além são suas relações em família e até mesmo seus dilemas com amores malsucedidos, que acabam por trazer uma lição, assim como deve ter sido para cada um de nós em algum momento da vida. O diferencial de Lara é a força que a protagonista se vê obrigada a ter após a partida de sua irmã mais velha. Por esse acontecimento, Lara ocupa um espaço que não é dela na dinâmica de sua família. 
Na adolescência, todo amor é para a vida toda. Se você se encantou à primeira vista por alguém, essa pessoa será o amor da sua vida para sempre. Até que venha a decepção e assim, o próximo “amor eterno” venha. O que não significa que não fosse verdadeiramente sentido. A protagonista sente isso na pele e acaba por guardar e ao mesmo tempo, externar esses amores não-correspondidos de uma forma bem especial: escrevendo cartas para os “crushes”, só que sempre, sem enviá-las. Mas um dia, estas cartas acabam sendo enviadas para cada um deles, o que gera uma grande confusão e uma grande preocupação para Lara, com duas delas: a primeira enviada ao ex-namorado (Josh) da irmã mais velha, que foi estudar na Escócia, e a segunda enviada ao aluno mais popular da escola, Peter.
O livro hoje em dia, virou filme. Mas vale a pena ler as páginas recheadas de amor, surpresas e identificação com parte da vida de cada um de nós.


E então, alguma outra sugestão de livro que virou filme?



quinta-feira, 21 de maio de 2020

Como organizar seu roteiro de estudo em casa nessa quarentena?


Ter um dia a dia mais organizado vai diminuir as chances de você procrastinar e deixar os estudos de lado.

Existem muitas maneiras de você manter os estudos em dia na sua casa: aulas a distância, lives, cursos online, muita leitura e até as redes sociais se tornaram grandes aliadas nesse momento de quarentena. A questão é que mesmo que tenha todas essas ferramentas ao seu alcance, se você não estabelecer uma rotina eficiente e compatível com as suas limitações, a desmotivação pode tomar espaço, a preguiça pode aparecer e procrastinação irá ditar seu ritmo de estudos.
Para isso não acontecer com você, aqui está algumas dicas para criar o cronograma ideal para quem precisa estudar em casa.

Não se esqueça que, sim, você está na sua casa – e durante uma pandemia.

A recomendação é sempre buscar ao máximo dar continuidade a sua rotina de estudos mesmo no período da quarentena. Mas o fato de você estar na sua casa faz muita diferença e é necessário se adaptar ao ambiente.
O primeiro passo é entender como será o dia a dia em casa, quais as novas demandas domésticas e como a convivência familiar vai demandar seu tempo e atenção.
Organizar os horários e planejar as atividades a serem feitas – tanto as ligadas aos estudos como os afazeres domésticos – aumenta a produtividade e reduz o alto risco de perder o ritmo de estudos e aprendizado.
Algo fundamental é entender o contexto no qual você está inserido. Estamos em meio a uma pandemia, está tudo bem se estiver abalado com isso. Não se cobre tanto. Não perca de vista que todos podem se sentir mais preocupados consigo, com familiares e parentes também devido às questões ligadas à Covid-19 e o estado emocional pode interferir na manutenção dos estudos.


A rotina anterior ainda é estratégica

Apesar das adaptações ao ambiente doméstico, das demandas extras provenientes da dinâmica familiar, de mais barulhos e interrupções, existem muitos detalhes importantes da sua antiga rotina de aulas presenciais que farão toda a diferença a partir de agora. A recomendação é criar uma rotina de horários determinados para tudo, como a que tem nas atividades presenciais. Horário para acordar, tomar café da manhã, assistir às aulas, realizar intervalos, almoçar, estudar e descansar.
Ou seja, o estudante que tem realizado aulas a distância precisa definir o horário para assistir às aulas gravadas, acessar os materiais de apoio e resolver os exercícios. Em caso de aulas ao vivo, o ideal é acompanhar em tempo real, o que permite interagir com os professores e tirar dúvidas.
Nessa situação, o suporte dos pais e responsáveis é fundamental para orientar e estimular a autonomia e o senso de responsabilidade para que os jovens se comprometam com os estudos.


Pausas são necessárias

Estudar é um processo que demanda energia, concentração e atenção, o que provoca cansaço. As pausas possibilitam um pequeno descanso que favorece a manutenção dos estudos por mais tempo de maneira mais atenta e concentrada.
Durante o período que estiver assistindo aulas online, busque organizar intervalos semelhantes aos que você tem na escola entre as aulas. Isso é importante para que mantenha um bom aproveitamento e melhore a absorção dos conteúdos. Já quando estiver estudando, fazer pequenas pausas de 10 a 20 minutos após 1h30 de estudos, é fundamental para manter o rendimento e melhorar a fixação do que está sendo estudado.
Como durante a quarentena você passará muito tempo olhando diretamente para as telas (computador, tablet e celular), pausar implica também distanciar-se dessas ferramentas para descansar a vista.


Disciplinas

A recomendação dos especialistas é que você organize os conteúdos estudados de acordo com as aulas que teria durante a semana nas aulas presenciais. Dessa forma, nenhuma matéria será deixada de lado. 
Uma sugestão é planejar seus estudos dentro do tempo disponível de maneira compatível com seu método de estudo, por exemplo: fazer primeiramente uma leitura, exercícios básicos e resumos para compreender os conteúdos selecionados para aquele dia. Depois retorne a cada um deles aprofundando com exercícios mais complexos e exigentes. Dessa forma, você entra em contato com o assunto duas vezes no seu dia e aumenta a absorção do conteúdo.
Fonte: Guia do Estudante



segunda-feira, 18 de maio de 2020

A Hora da Estrela




Chegou o momento de falarmos do livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Publicado em 1977, conta a história da emigrante nordestina Macabéa por meio do narrado Rodrigo S. M.
Muito solicitado em vestibulares e provas como o ENEM. 

Clarice Lispector e o romance intimista

Clarice Lispector foi uma escritora da terceira geração do modernismo. Seu primeiro romance publicado foi Perto do Coração Selvagem, quando tinha 17 anos, e chamou a atenção por sua grande qualidade narrativa. Desde então, Clarice se mostrou uma das grandes escritoras em língua portuguesa.

Análise

Os romances da autora estão repletos de estudos psicológicos das personagens, mas ocorrem poucas ações, já que seu interesse está voltado para o que se passa dentro do ser humano. A epifania é a grande matéria-prima das obras de Clarice.
O romance psicológico, ou romance intimista, é o foco de Clarice Lispector. Nesse tipo de romance, o interesse é voltado para os conflitos psicológicos internos das personagens ou do narrador, sejam eles conscientes ou inconscientes.
O diálogo interno é preferido ao diálogo externo, a vida interior é mais explorada do que o que se passa ao redor das personagens.
O chamado fluxo de consciência, mais que os fatos em si, é a matéria essencial para a romancista, que busca por meio dos seus personagens expor conflitos internos. A crise existencial e a introspecção causada por essa crise parecem ser as matérias que dão início às obras de Clarice Lispector.

Contexto

A maioria das obras de Clarice Lispector foram escritas durante a ditadura militar no Brasil. Quando muitos escritores procuravam denunciar ou criticar a situação política nacional, Clarice Lispector focava sua obra no psicológico, deixando a política de lado.
A atitude da escritora de ignorar o momento histórico gerou diversas críticas que a acusavam de ser alienada. Clarice, porém, tinha consciência política e, além de explicitá-la em algumas crônicas, isso está presente no romance A Hora da Estrela.

O narrador Rodrigo S. M.

O romance vai ser narrador por Rodrigo S. M., que também é apresentado como escritor. Ele é um dos elementos mais importantes do livro, fazendo uma mediação entre os acontecimentos, os sentimentos de Macabéa e os seus próprios.
Antes de começar a contar a história de Macabéa, Rodrigo S. M. abre o romance com uma dedicatória. Nela, o narrador faz uma profunda reflexão sobre o ato de escrever. Ele sabe que a palavra tem papel fundamental não só na escrita, mas no mundo.
A linguagem é tratada como performática, isso quer dizer que ela encerra dentro de si o poder da ação:

"tudo no mundo começou com um sim"

Com a consciência do poder da palavra, o narrador começa uma série de questionamentos sobre o ato de escrever e como contar a história de Macabéa.
O capítulo em questão se inicia com uma série de dedicatórias para os grandes compositores de música clássica. Podemos entender nesse contexto que a vibração, a linguagem antes da palavra, tem um papel muito importante no livro. O inefável, aquilo que não pode ser dito é o grande foco de A Hora da Estrela.
Rodrigo S. M. nos diz que ao longo de todo o romance existe um senhor tocando violino na esquina. A música faz parte essencial da história, como aquilo que não pode ser dito, apenas sentido.
O narrador mantém um papel fundamental ao longo de todo o romance, e não apenas na dedicatória. Macabéa é uma pessoa simples, com pouca consciência de si mesma. O narrador aparece como um mediador dos assuntos internos de Macabéa.
Em um movimento que vai do seu psicológico para a da personagem e vice-e-versa, o narrador consegue criar uma teia complexa de sentimentos e pensamentos em um personagem aparentemente simples.
Esse movimento também serve para que o narrador desenvolva os seus próprios conflitos internos e exponha questões sociais que geralmente não têm espaço nas obras de Clarice Lispector. Rodrigo S. M. diz não pertencer a nenhuma classe social, mas reconhece em Macabéa a precariedade das populações mais pobres.
Macabéa é nordestina como o narrador e como Clarice Lispector, que nasceu na Ucrânia embora tenha crescido no Recife. O narrador sente por Macabéa a proximidade da origem, mas a vida deles no Rio de Janeiro é muito diferente. A relação entre o narrador e a personagem acaba sendo um tema central no livro.

Macabéa

Macabéa é uma entre as muitas mulheres nordestinas que saíram do sertão para a cidade. O tema da migração e da miséria do nordeste percorre o romance em paralelo com o desenvolvimento psicológico do narrador e da personagem. Rodrigo S. M. é o criador da personagem, mas diz ter vislumbrado Macabéa em um relance, quando viu o rosto de uma nordestina na rua.
A personagem é uma pessoa simples, tanto materialmente como psicologicamente. Macabéa não tem consciência de si mesma e quase nenhum desejo. As únicas vontades que ela possui vêm da sua fascinação pelas propagandas ou pelo cinema - são desejos simples e um pouco deslocados. Por exemplo, quando ela vê uma propaganda de um creme de rosto, seu desejo é comer o creme com colher.
Outro desejo que aparece em Macabéa e que é explorado pelo narrador é o seu desejo sexual. Todos os movimentos de Macabéa são primitivos e possuem relação com os instintos básicos de sobrevivência, como comer e se reproduzir.
Porém, até esse desejo básico da sexualidade é reprimido em Macabéa. Seus pais morreram quando ela era criança e ela foi criada por uma tia beata. As pancadas que a tia lhe dava e a criação religiosa serviram para que Macabéa reprimisse o menor desejo sexual.
Macabéa praticamente não existe, sua presença é sempre pequena, ela nunca quer incomodar e sempre é educada. Seu primeiro namoro é com Olímpico, outro nordestino, mas de carater totalmente diferente. Ele é descrito como alguém decidido, voltado para seus objetivos, uma pessoa com anseios, desejos e até alguma maldade.
Durante o namoro, Macabéa segue as vontades de Olímpio sem questionar, até quando ele termina o namoro com ela para ficar com sua colega de trabalho. Macabéa aceita o término, esboçando como única reação um riso de nervosismo.

Interpretação

A Hora da Estrela é um dos principais romances de Clarice Lispector e uma das mais importantes obras da literatura brasileira. O que torna o livro especial é a relação que o narrador Rodrigo S. M. tem com a personagem principal Macabéa.
O livro é, acima de tudo, uma reflexão sobre o exercício da escrita e do papel do escritor. Clarice Lispector sempre foi tida como uma escritora “difícil”. Nesta obra, ela nos mostra como seu processo criativo é complexo, justificando um pouco o conteúdo.
Rodrigo S. M. nos diz no começo do romance:

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado..."

A angústia do escritor é matéria essencial da obra. Por meio da estória e da Macabéa, o escritor consegue “aliviar” a sua angústia. Porém esse alívio é passageiro, pois logo a própria escrita se torna fonte de angústia.
Há também uma preocupação com o inefável (aquilo que não pode ser dito) e com os limites do narrador. A vibração como forma de comunicação não verbal reverbera em todo o romance, mas como o livro é essencialmente palavras essa comunicação é falha. O narrador tem os seus próprios limites.
A pergunta que se coloca é como constituir, criar e narrar uma vida tão diferente da do criador.

"Vai ser difícil escrever essa história. Apesar de eu não ter nada a ver com a moça, terei que me escrever todo através dela por entre espantos meus."

O sucesso do romance (a sua escrita e a transformação da narrativa em literatura) é ainda, por mais contraditório que pareça, o fracasso do narrador.

"Estou absolutamente cansado de literatura; só a mudez me faz companhia. Se ainda escrevo é porque nada mais tenho a fazer no mundo enquanto espero a morte. A procura da palavra no escuro. O pequeno sucesso me invade e me põe no olho da rua."

A Hora da Estrela é a grande reflexão sobre a escrita e sobre o papel do escritor, sobre os limites do narrador e do próprio ato de narrar. Em última instância, é o desabafo de quem tem quer vomitar uma estrela de mil pontas.

Depois dessas apresentações sobre o livro, o que acha de ler A Hora da Estrela e tirar suas conclusões sobre essa obra? Boa leitura!

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Centenário de Clarice Lispector


UM POUCO DA BIOGRAFIA DA AUTORA.



"Não escrevo para fora, escrevo para dentro". Assim a escritora Clarice Lispector (1920-1977) explicava sua literatura. Considerada uma das maiores escritoras do Brasil, ela foi romancista, contista, cronista, tradutora e jornalista.

Clarice Lispector pertence à terceira fase do movimento modernista e imprimiu em suas obras uma literatura intimista, de sondagem psicológica e introspectiva, com mergulhos no pensamento e na condição humana.

Em 2020, comemora-se o centenário do nascimento de Clarice Lispector. A escritora nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, uma aldeia da Ucrânia, então pertencente à Rússia. Seu nome de nascença é Haia. Os pais, judeus russos, decidem emigrar três anos após a Revolução Bolchevique de 1917, devido à violência e a constante perseguição antissemita.

A família chegou ao Brasil em 1922, na cidade de Maceió, onde adotam novos nomes. Haia, então com dois anos de idade, se tornou Clarice. Pouco tempo depois, a família se mudaria de Alagoas para Recife, em busca de melhores condições de vida. Após a morte da mãe, os familiares foram viver no Rio de Janeiro.

Naquela época, as mulheres ainda eram vistas como donas de casa e mães. Mas Clarice Lispector pôde estudar e trabalhou desde muito jovem. Ela começou a trabalhar como professora particular de português e matemática. Em 1939, ingressou na faculdade de Direito, onde concluiu a graduação em 1943. Durante os estudos, começou a trabalhar como repórter na Agência Nacional. Começava aí uma carreira paralela como jornalista, com publicações na imprensa de textos jornalísticos e literários.

Em 1942, Clarice Lispector escreveu seu primeiro romance, que recebeu o título de Perto do coração selvagem. Segundo ela, escrevê-lo foi um processo de angústia, pois "o romance a perseguia". As ideias surgiam a qualquer hora, em qualquer lugar. Por isso, adotou o hábito de anotar as ideias em qualquer pedaço de papel. Ela reuniu as anotações esparsas e concluiu a obra.

Em 1943, Clarice Lispector se naturalizou brasileira. Ela casou-se com um diplomata, o que a fez viver em países como Estados Unidos, Inglaterra, Itália e Suíça, onde escreveu os seus primeiros livros. No mesmo ano, publicou Perto do coração selvagem, narrativa que foi bem recebida pela crítica brasileira, que chegou a comparar seu estilo com escritores como James Joyce e Virgínia Woolf.

O livro conta a história de Joana, desde a sua infância até a vida adulta. O crítico Antonio Candido reconheceu nessa obra um talento literário precoce e a extraordinária capacidade da jovem estender "o domínio da palavra sobre regiões mais complexas e mais inexprimíveis".

A narrativa já mostrava o estilo pessoal de Clarice Lispector, um romance urbano que explora o campo psicológico das personagens e o uso do monólogo interior (discurso da personagem na primeira pessoa, em que ela reflete sobre seus sentimentos, ideias ou experiências). Muitos textos retratam as angústias e introspeções do universo feminino.

Naquela época, a literatura brasileira era marcada pelo regionalismo, com histórias lineares que abordavam a realidade regional do país e as questões sociais. A narrativa da escritora representa uma inovação no romance brasileiro, ao quebrar a linearidade discursiva (do tipo início-meio-fim) e adotar o ponto de vista do narrador não-onisciente para narrar a história.

Em 1959, após seu divórcio, Clarice Lispector volta a residir no Brasil e publica alguns de seus livros principais, como Laços de Família (1960), A Paixão Segundo G.H. (1964), Água Viva (1973) e A Hora da Estrela (1977). Morando no Rio de Janeiro, a escritora também dedica parte de sua produção aos contos.

"Meus livros, felizmente, não são superlotados de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo", afirmou a escritora. A literatura clariciana traz como características elementos como o fluxo de consciência, monólogo interior e a ruptura com o enredo factual. As temáticas são existenciais e psicológicas.

Outra marca de sua literatura é o uso da epifania - momentos em que alguma das personagens (no geral, femininas) passam por uma revelação ou uma tomada de consciência diante de um fato do cotidiano.

A personalidade da escritora também provocava curiosidade e admiração. A escritora francesa Hélène Cixous definiu Clarice como "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mães, se tivesse chegado aos cinquenta. Se Heidegger pudesse ter deixado de ser alemão, se ele tivesse escrito o Romance da Terra".

Pela imprensa, Clarice Lispector já foi chamada de "bruxa", "exótica" e "misteriosa". Mas ela gostava de se definir de uma forma mais simples: uma escritora e uma dona de casa. Também foi chamada de "Esfinge do Rio de Janeiro". O apelido lembra uma passagem da escritora pelo Egito. Em uma viagem, ela olhou fixamente para a esfinge. "Não a decifrei", escreveu Clarice. Mas ela continuou: "Mas ela também não me decifrou".

O mais importante romance de Clarice Lispector é A paixão segundo G.H. Lançado em 1964, ano em que a ditadura militar se consolidou no Brasil. Nesse livro, uma mulher de classe média (GH) ao arrumar o quarto de empregada, se depara com uma barata. Assustada, ela a espreme contra a porta de um armário.

O incidente passa a causar uma série de reflexões existenciais na protagonista, conduzindo-a à tomada de consciência. A obra é um longo monólogo em que a narradora faz um mergulho em si mesma, em um fluxo incessante de pensamentos e sentimentos.

A escritora dizia que escrevia para se entender e para "dizer o indizível". A partir de A paixão segundo G.H, sua obra passa a ser analisada com questões da filosofia e conceitos metafísicos. Críticos comparam alguns de seus textos ao pensamento existencialista de filósofos como o francês Jean-Paul Sartre e dinamarquês Søren Kierkegaard em temas como a angústia da existência humana, o mal-estar cotidiano, o nada, o amor e a liberdade.

Outra obra marcante é Água Viva, publicada em 1973 e considerada "enigmática" por muitos críticos. O romance traz a história de uma solitária pintora que inicia um quadro e resolve escrever para o antigo amante.

A escritora se lança em reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, a coragem e o medo e a arte. "Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante —já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante— já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é. Quero apossar-me do é da coisa", escreve ela.

Clarice trabalhou como jornalista até 1975, passando por revistas e jornais nacionalmente conhecidos, escrevendo crônicas e colunas para o público feminino. A autora faleceu de câncer em 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, um dia antes de completar 57 anos. Durante o período da doença, passou a ficar mais tempo em casa, escrevendo. Foi quando produziu o romance A Hora da Estrela, o último publicado em vida.

Ela morreu dois meses após publicar o romance.

Fonte: UOL - Vestibulares




Principais obras de Clarice Lispector



Romances
Perto do coração selvagem, 1943

A paixão segundo G.H, 1964

Água viva, 1973


Novela

A hora da estrela, 1977


Contos 

Laços de Família, 1960



Em uma outra publicação falaremos sobre o livro A Hora da Estrela, onde é solicitado em muitos vestibulares e merece uma atenção especial.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Momento de Reflexão

Para começar a semana pensando sobre tudo o que está acontecendo, assista ao vídeo, veja o quão profundas e "atuais" são as frases. 
Reflita sobre elas! Você pode registrar uma, ou várias e pesquisar também sobre os autores... Pode pesquisar também sobre os livros das quais foram retiradas.
A minha preferida é "Ostra feliz não faz pérolas" - de Rubem Alves.
Tenho algumas obras dele, se quiserem também posso, futuramente, postar algumas delas aqui! 
Aproveite a atividade sugerida!




quinta-feira, 7 de maio de 2020

Vamos falar de Vestibular?




Hoje vamos falar sobre os livros de leitura obrigatória do vestibular da Unicamp.




A lista de obras inclui romance, poesia, peça teatral, conto, diário, e letras de música, entre outros gêneros, a fim de levar o vestibulando a ampliar o seu campo de estudos, sem sobrecarregá-lo no volume de leituras. Ela consta na seguinte:


Gênero
Autor
Obra
Trechos/ textos exigidos
Onde acessar
Poesia
Luís de Camões
(sonetos selecionados pela Comvest)
Domínio público e Vinte Sonetos. Org: Sheila Hue. 1ª ed.Campinas: Editora da Unicamp, 2018.
Racionais Mc’s
Sobrevivendo no inferno
Obra completa
Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Cosa Nostra, 1997.
Ana Cristina Cesar
 A teus pés
Texto completo*

Conto
Lygia Fagundes Telles
O seminário dos ratos
Conto: O seminário dos ratos

Machado de Assis
O Espelho
Texto completo
Domínio público e O Espelho. Apresentação: Marisa Lajolo. 1ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.
Teatro
Fernando Pessoa
 O marinheiro
Domínio público
Romance
Júlia Lopes de Almeida
A falência
Texto completo
Domínio público e A Falência. Edição comentada: Regina Zilberman. 1ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2018
Raul Pompéia
O Ateneu
Texto completo
Domínio público
José Saramago
História do Cerco de Lisboa
Texto completo

 Diário
Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo
Texto completo
Distribuído pelo governo federal no PNBE
Crônica
Nelson Rodrigues
A cabra vadia
Texto completo
A cabra vadia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
 Sermões
Antonio Vieira
(sermões selecionados pela Comvest)

  
*As obras marcadas em negrito são as que foram inseridas na lista atual. As demais já constavam da lista do ano anterior.



Para essa postagem, deixo o Conto "O Espelho" de Machado de Assis, para vocês lerem e também o Conto Comentado e analisado, para vocês fazerem a reflexão sobre ele.

Com o decorrer, postarei também outros livros da lista. Aproveitem!