quarta-feira, 31 de março de 2021

História - O Golpe Militar

O golpe militar no dia 31 de março de 1964 fez o Brasil mergulhar em 21 anos de ditadura.

O golpe militar de 31 de março de 1964 foi o mais longo período de interrupção democrática pelo qual passou o Brasil durante a República. Qualificado pela história como "os anos de chumbo", o período da ditadura foi marcado pela cassação de direitos civis, censura à imprensa, repressão violenta das manifestações populares, assassinatos e torturas.

Portanto, hoje trago a "Biografia de Marighella, o Guerrilheiro que incendiou o Mundo" (1911-69), militante comunista, deputado constituinte e fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura militar brasileira, a Ação Libertadora Nacional.


Descrição do livro 


Cuidado, que o Marighella é valente, disse Cecil Borer, diretor do Dops do Rio, antes de despachar uma equipe para capturá-lo em seguida ao golpe de 64. O autor da obra é o premiado jornalista Mário Magalhães, por muitos anos repórter especial e ombudsman da Folha de S. Paulo.
A narrativa percorre a vida, a obra e a militância do controverso mulato baiano que foi deputado federal, poeta e estrategista da guerrilha no Brasil. Passagens pela prisão, resistência à tortura, assaltos a bancos (e a um trem pagador), tiroteios, espionagem internacional, tudo é apresentado em ritmo de thriller, com revelações desconcertantes.
A biografia de Carlos Marighella (1911-69) é também um livro sobre a história política entre as décadas de 1930 e 60. Por isso, figuras como Fidel Castro, Getúlio Vargas, Carlos Lamarca, João Goulart, Che Guevara, Luiz Carlos Prestes, Carlos Lacerda e Olga Benario aparecem como coadjuvantes de luxo.
Vigiado pela CIA e monitorado pelo KGB, Marighella conseguiu se manter ativo ao longo de seus quase quarenta anos de militância, mesmo quando procurado internacionalmente. No mundo inteiro, personalidades o apoiaram, como Jean-Paul Sartre, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, Augusto Boal, Joan Miró e Luchino Visconti. Em paralelo ao trabalho de campo, Marighella publicou livros e textos que se tornaram clássicos em dezenas de idiomas.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Semana St. Patrick's Day - Curiosidades e Símbolos

Veja algumas curiosidades marcantes da celebração do St. Patrick’s Day


Por que se usa verde no St. Patrick’s Day?

Existem diversos motivos para que o verde seja a cor dominante no St. Patrick’s Day.

O primeiro deles é que a Irlanda tem o apelido de Ilha Esmeralda.

Ela é conhecida assim porque as condições climáticas do local fazem com que o país tenha uma mata verde constante ao longo de todo o ano.

O segundo motivo é o uso da cor verde em um momento emblemático da história do país.

Estamos falando da Rebelião Irlandesa de 1798, quando os católicos e protestantes no país resolveram se revoltar contra o controle da Inglaterra, que era anglicana.

Para chamar a atenção para esse conflito, o exército rebelde vestiu o verde em 17 de março, o que ajudou a reforçar essa imagem como a cor símbolo do país.

Como a festa de St. Patrick’s Day é uma celebração de um santo padroeiro do país e de vários aspectos da cultura irlandesa, o verde é usado nessa festa em roupas, comidas, bebidas, decoração e tudo o mais.

O que é o chopp verde?

No St. Patrick’s Day, até a cerveja bebida é da cor verde.

Hoje, o chopp é feito com corante alimentício dessa cor, misturado à cerveja normal de todos os dias.

Porém, conta a lenda que isso nem sempre foi assim.

Acredita-se que, em 1910, a cerveja verde tenha sido criada em Nova Iorque como homenagem ao St. Patrick’s Day.

E seu autor seria um médico que teria colocado acetaldeído para dar o tom.

Com essa química presente, o sabor teria sido alterado e a bebida faria mal ao estômago, porque o acetaldeído interferiria no processo de fermentação.

Sorte que hoje em dia é possível desfrutar dessa iguaria com o sabor original.

É possível beber na rua no St. Patrick’s Day?

Por falar em bebida, o que vem à sua cabeça quando pensa em Irlanda?

Muito chopp e pubs, é claro!

Mas você sabia que não é permitido beber nas ruas nesse país? Pois é, mas essa regra muda durante a festa de St. Patrick’s Day.

Nesse feriado, celebrar com muita cerveja pelas ruas é uma atitude comum e liberada, sem pagamento de multa.

O gigante lucro da Guinness

Ainda falando em bebida, a cervejaria irlandesa Guinness, principal do país, vende cerca de 7,5 milhões de canecas apenas no St. Patrick’s Day.

Isso significa cerca de 13 milhões de litros da bebida, que é tingida de verde para o feriado.

Com números como esses, não é à toa que a marca apoia e estimula a celebração do St. Patrick’s Day há anos, ajudando a criar a tradição que conhecemos hoje.

Cobras na Irlanda são fake news

Apesar de se dizer que São Patrício teria eliminado as cobras da Irlanda, a verdade é que esse país não tem nenhuma espécie de serpente e nem nunca teve.

Cientificamente, é possível saber que esse tipo de animal nunca existiu na ilha.

Por isso, sabemos que as serpentes que São Patrício teria eliminado eram metafóricas, ou seja, elas representavam a religião celta que ele tanto combateu.

Turistas são bem-vindos na comemoração

Você não precisa ser parte de uma comunidade irlandesa pelo mundo para comemorar o St. Patrick’s Day em grande estilo.

Para participar da parada oficial de comemoração desse feriado na Irlanda, basta acessar o site do evento com alguma antecedência e se inscrever.

Conclusão

Que tal viver a festa de St. Patrick’s Day na Irlanda, nos Estados Unidos ou em algum outro país onde essa data é marcante?

Certamente, seria uma experiência única!

Agora, se você prefere ficar aqui pelo Brasil, também é possível encontrar festas e eventos de St. Patrick’s Day em boates e bares do Rio de Janeiro e São Paulo.

Símbolos da comemoração de St. Patrick's Day


Além da cor verde, existem alguns símbolos que se repetem ao longo da festa de St. Patrick’s Day.

Conheça quais são os principais!

O trevo de três folhas

A planta já era considerada pelos povos nativos irlandeses (celtas) como um símbolo de boa sorte.

Por isso, conta a lenda que, para conseguir explicar a Santíssima Trindade aos pagãos, São Patrício usou o trevo como uma metáfora.

Deus seria como o trevo de três folhas: uma unidade que se divide em Pai, Filho e Espírito Santo.

A cruz celta

Para conseguir converter os povos celtas em católicos, Patrício precisou adotar a estratégia de adaptar símbolos.

Foi assim que a transição da religião aconteceu de maneira amistosa.

Com esse objetivo, ele teria unido a cruz católica à cruz solar (de origem irlandesa) para criar a cruz celta, usada até hoje na festa de St. Patrick’s Day.

Os leprechauns

Na cultura celta, de onde surgiu o povo irlandês, os leprechauns são uma espécie de duendes bem humorados que consertavam os sapatos das fadas.

A festa de St. Patrick’s Day resgata essa figura do folclore irlandês como forma de relembrar a origem do povo.

O corned beef boiled

Esse prato de carne com repolho é considerado o oficial da data, preparado para combinar com os litros de cerveja que são consumidos.
Fonte: All Accor




quarta-feira, 10 de março de 2021

Semana St. Patrick's Day - A História e como ela é comemorada no Mundo




O que é St. Patrick’s Day?


O St. Patrick’s Day é uma festa da cultura da Irlanda que se expandiu para vários países do mundo a partir da imigração irlandesa.

Ela acontece no dia 17 de março, data em que se lembra o aniversário de morte de São Patrício, o padroeiro do país europeu.

Atualmente, esse é o maior e mais festejado feriado da Irlanda.


Conheça a história do St. Patrick’s Day

Por incrível que pareça, a história do feriado mais famoso da Irlanda começa na Grã-Bretanha.

Quer saber como? Vamos à história!

A vida de São Patrício:

São Patrício, o símbolo irlandês, nasceu no século IV, na Inglaterra.

A história conta que lá ele viveu até os 16 anos, com crenças e costumes pagãos. Inclusive, seu nome sequer era Patrício originalmente.

O que mudou o seu destino foi o fato de que foi raptado por piratas e vendido como escravo à Irlanda.

Lá, ele viveu em cativeiro por 6 anos, quando começou a se aproximar da religião católica.

Porém, Patrício conseguiu fugir da prisão e voltar à Inglaterra, onde estudou por 12 anos em um mosteiro e acabou se tornando um bispo católico em 432.

Foi quando ganhou o nome de Patrício.

Sentindo um chamado divino para retornar à Irlanda e livrar o país do paganismo celta, Patrício voltou ao país que o prendeu para evangelizar os povos na doutrina católica.

Lá, ele foi missionário durante 30 anos e se mudou para County Down, condado onde faleceu em 17 de março de 461.

A criação do feriado de St. Patrick’s Day

O Dia de São Patrício surgiu em 1903 como uma comemoração religiosa da vida desse homem santo.

Ela acontecia sempre no dia 17 de março, aniversário da sua morte.

Porém, a data caía sempre em meio à quaresma, que já é um período de restrições comportamentais aos fiéis católicos.

Para que a celebração não fosse ofuscada pelos sacrifícios da quaresma, a Igreja Católica suspendeu essas restrições na data, fazendo com que ela se tornasse um momento do povo irlandês comemorar com comida farta, músicas, festas e bebidas.

Mas a celebração como se conhece hoje ainda demoraria a acontecer.

Os tradicionais pubs não abriam nesse feriado e só foram participar ativamente dessa festa em 1970, muito estimulados pelas cervejarias locais.
Como é comemorado o St. Patrick’s Day?

Quando o assunto é comemorar o St. Patrick’s Day, a festa varia conforme o país que a sedia.

Na Irlanda, berço da comemoração, são realizadas paradas de bandas e apresentações de artistas variados.

Também comidas e bebidas verdes são vendidas e a população sai massivamente para as ruas e pubs.

Como a data é comemorada no mundo

Como a gente já destacou antes, o St. Patrick’s Day é comemorado pela comunidade irlandesa e seus simpatizantes por todo o mundo.

Isso acontece principalmente em países de língua inglesa, como o Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Austrália.

Veja como funciona a celebração ao redor do planeta.

St. Patrick’s Day nos Estados Unidos

Você sabia que o maior desfile de St. Patrick’s Day do mundo é em Nova Iorque?

E essa festa tão grande tem um motivo histórico.

De 1845 a 1849, a Irlanda passou por um período muito sério de fome.

Era uma época pré-globalização, onde a circulação de mercadorias e alimentos entre os países não era algo comum.

Por isso, a população do país dependia muito dos nutrientes retirados do cultivo das batatas.

Porém, em 1845, uma doença se espalhou pelas plantações de batata, contaminando os alimentos.

Isso teve consequências desastrosas para o país, causando mais de 1 milhão de mortes e levando mais 1 milhão de irlandeses a emigrarem.

Boa parte dessas pessoas foi para o nordeste dos Estados Unidos, para cidades como Nova Iorque e Boston.

Assim, por conta da enorme comunidade irlandesa que existe por lá, a Big Apple passou a comemorar o St. Patrick’s Day em grande estilo, com cervejas verdes nos bares e desfiles.

A data, porém, não configura um feriado nacional.

St. Patrick’s Day na Inglaterra

Na Inglaterra, outro país no qual a presença de irlandeses é muito forte, o St. Patrick’s Day é comemorado com festa no fim de semana próximo à data original.

Na verdade, os imigrantes por lá comemoram desde o século XIX e o fazem com desfiles e festas em diversas cidades desde a Segunda Guerra Mundial.

Durante as décadas de 70 a 90, conflitos militares entre a Irlanda e a Inglaterra fizeram com que a celebração fosse feita apenas no âmbito familiar.

Porém, ao final dos anos 90, terminado o conflito, o público voltou a festejar o St. Patrick’s Day nas ruas.

Em Londres, capital da Inglaterra, há 18 anos acontece a St. Patrick’s Day Parade em março, saindo de Green Park, na Piccadilly, e caminhando até a Trafalgar Square.

Ela conta com bandas, grupos de dança e apresentações variadas celebrando a cultura irlandesa.

Chegando na Trafalgar Square, o desfile se junta ao festival de St. Patrick’s realizado na praça, com brincadeiras, comidas típicas, cerveja verde e atrações para entreter toda a família.

Outras paradas menores e temáticas se realizam por várias cidades do país, espalhando a tradição do St. Patrick’s Day.

Porém, apesar da adesão à comemoração, esse evento não é um feriado nacional na Inglaterra, nem na Escócia e no País de Gales, que também são parte do Reino Unido.

St. Patrick’s Day na Austrália

O St. Patrick’s Day australiano é celebrado das ruas aos estabelecimentos e às empresas.

Algumas companhias organizam cafés da manhã ou almoços com culinária típica nesta data.

Já os pubs, que não podiam faltar, chamam bandas irlandesas para tocar músicas típicas em festas temáticas regadas a cerveja verde e alegria.

Além disso, em grandes cidades do país, como Sydney e Brisbane, desfiles comemorativos são realizados, a exemplo da Inglaterra.

Esses desfiles contam com pessoas em trajes típicos irlandeses, muito verde (nas roupas, nos adereços, nas bebidas) e bandeiras da Irlanda.

Figuras folclóricas como leprechauns também são representados nas fantasias dos participantes.

E, para manter a tradição desse evento viva, associações irlandesas também oferecem a chance de os locais aprenderem mais sobre a história desse país, através de ações de educação sobre a imigração irlandesa na Austrália e em outros países.

Porém, apesar dessa comemoração toda, o país não tornou o dia 17 de março um feriado nacional.

Fonte: All Accor

sexta-feira, 5 de março de 2021

Semana da Mulher - Poema e Música

Para fechar essa semana, primeiramente um poema de Bráulio Bessa, homenageando a Mulher:



"Ser Mulher"

"Um só dia
Um só dia é muito pouco para celebrar a mulher
Um só poema
Uma rosa
Uma homenagem qualquer
Palavras são muito pouco
Não importa o que eu disser
Mesmo assim
Mesmo assim dizer é o meu dever
É dever da humanidade reconhecer
Que a mulher é força é dignidade
É o que é
E o que quer ser
E ela quer ser
Liberdade
Quer ser mãe, quer ser artista
Ser sozinha, aventureira, empresária, agricultora
Ser juíza, sacoleira
Quer ser talvez, bossa nova
Mas também quer ser funkeira
Quer ser Maria da Penha, Anne Frank ou Malala
Dandara, Madre Tereza
Quer ser arma
Sem ser bala
Gisele, Marta, Michele
Sangue, pele, Marielle
Quer ser voz que não se cala
Mulher, absurdo, paradoxo
Quer ser ferida e ser cura
Ser calma, ser confusão
Sanidade com loucura
Desafino com juízo
Uma placa com aviso
Indecentemente pura
Quer ser simples, popular
Quer ser a joia mais cara
Quer ser muitas, ser plural
E ainda assim quer ser rara
Quer ser livre corpo e mente
Quer ser, e é diferente
E a diferença, é clara
A diferença é a força, a garra, a resistência
A coragem, sabedoria, a pressa e a paciência
É tão claro e evidente, ser igual e diferente
Faz parte da sua essência
Mulher
Mulher quer ser um espelho
Quer ser o que lhe contrasta
Quer ser o que lhe constrói, quer ser o que lhe devasta
Mulher só quer ser mulher
E o ser mulher, já lhe basta"


Em seguida, acho digno colocar nesse Blog também a Música "Maria, Maria" que representa a força da mulher:


"Maria, Maria"

"Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta

Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca, Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca possui
A estranha mania de ter fé na vida"

quinta-feira, 4 de março de 2021

Semana da Mulher - Mulheres que correm com os lobos


A psicanalista Clarissa Pinkola Estés descreve em “Mulheres que correm com os lobos” o arquétipo da Mulher Selvagem, a partir de 19 contos e mitos.


O livro de Clarissa Pinkola Estés foi inspirado em seu estudo sobre os lobos Canis Lupus e Canis Rufus, com os quais relaciona ao espectro da personalidade da mulher, aquela desvinculada das amarras do patriarcado. O título “Mulheres que correm com os lobos” faz referência, justamente, a isso. E seus capítulos tratam temáticas sobre perdão, amor, autoconhecimento, sexualidade, criatividade, etc. Cada um deles apresenta um conto que fundamenta a análise psíquica da Mulher Selvagem de acordo com o contexto abordado.

Segundo Pinkola, a domesticação da Mulher Selvagem implicou uma série de problemas. É através da psicanálise que ela busca desvendar a mente da mulher e reencontrar a Mulher Selvagem a qual foi saqueada.

A analista junguiana afirma que a sociedade trata as mulheres e os lobos, assim como nos contos de fadas: criaturas terríveis e meninas indefesas, respectivamente. Então, ela investiga o esmagamento da natureza instintiva feminina e a chave da sensação de impotência da mulher moderna. Abordando 19 contos, mitos e lendas, a autora estabelece belíssima relação entre a devastação das florestas virgens e animais silvestres e aquela dos instintos e ciclos naturais femininos. Contudo, a energia vital da Mulher Selvagem pode ser recuperada pelo estudo e exploração do sagrado feminino.

“Mulheres que correm com os lobos” conta com um arsenal de histórias universais utilizadas para tratar os arquétipos femininos. Vale, então, ressaltar que arquétipos nada mais são do que um conjunto de imagens primordiais armazenadas no imaginário humano. Ou seja, eles são formadores do conhecimento inconsciente e universal, porque dão sentido às histórias. Assim, Clarissa Pinkola propõe evidenciar aquilo que está subentendido ou até mesmo oculto nessas narrativas.

A leitura de “Mulheres que correm com os lobos” é densa e instigante. Por isso, exige entrega, tempo e calma. O livro requer muita reflexão, visto que propõe uma jornada de descobrimento e amor próprio.

E é improvável que as leitoras de “Mulheres que correm com os lobos” não se identifiquem com alguma situação, condição ou circunstância exposta em algumas das páginas do livro. Afinal, são muitas histórias compartilhadas pela mente feminina e suas feridas.

Por exemplo, o enfoque do primeiro capítulo, “O Uivo: a Ressurreição da Mulher Selvagem”, está na Mulher-lobo definida como espírito da mãe da natureza, a protetora. Enquanto em “A Tocaia Ao Intruso”, a autora provoca uma reflexão, a qual é guiada pelo conto Barba Azul, sobre a maneira como a mulher é geralmente tratada: ingênua e frágil. E no terceiro capítulo, “Farejando Os Fatos”, Pinkola conta a história da Boneca Vasalisa, analisando a questão da perda brutal nos contos de fada e sua relação com o que acontece na realidade, de fato.

Em síntese, “Mulheres que correm com os lobos” compreende diagnósticos fundamentados por diversos contos e mitos, uma vez que esses são propulsores de reflexões sobre o feminismo e a vida particular da mulher. A leitura é muito produtiva e recomendada!
Fonte: Meu Catálogo de Livros



quarta-feira, 3 de março de 2021

Semana da Mulher - Amar, Verbo Intransitivo



A história do livro Amar, Verbo Intransitivo, classificada como idílio pelo próprio autor, é sobre a iniciação sexual do protagonista, Carlos Alberto. Seu pai, Sousa Costa, preocupado em prepará-lo para a vida, contrata uma profissional para isso, Fräulein Elza (o grande medo de Sousa Costa é que, se seu filho tivesse sua iniciação num prostíbulo, poderia ser explorado pelas prostitutas ou até se tornar toxicômano por influência delas). Oficialmente, ela entra no lar burguês de Higienópolis para ser governanta e ensinar alemão aos quatro filhos do casal Sousa Costa, D. Laura.

Muitos aspectos são dignos de nota aqui. Em primeiro lugar, o tema é completamente inédito em nossa literatura e deve ter sido motivo de certo escândalo em sua época. Além disso, a iniciação sexual tranquila e segura é vista como garantia para uma vida madura e até para o estabelecimento de um lar sagrado. Em suma, sexo é a base de tudo. Freud, portanto, mostra-se marcante.

Pode-se afirmar que a intenção do chefe da família é fadada ao fracasso, pois Carlos não era virgem. Bem antes de iniciada a história, ele havia tido sua experiência sexual no Ipiranga, em meio à farra de seus amigos, com uma prostituta. Mas fora um ato mecânico, seco, pressionado pelos amigos. Não tinha sido, pois, uma iniciação completa.

Interessante é que Fräulein (em alemão essa palavra significa “senhorita”, mas também tem o valor e todo o peso do termo “professora”) realiza seu serviço com dignidade, não enxergando relação com prostituição. Assume estar realizando uma missão. É um elemento que destoa do olhar de Sousa Costa e até do próprio narrador.

Além disso, esse disfarce, meio que hipócrita, de Fräulein ser na aparência governanta e na verdade iniciadora do amor, revela toda a complexidade em que a sexualidade humana está mergulhada (as teorias freudianas). Há aqui todo um jogo de querer e esconder, negar e afirmar, que vai perpassar a relação que Elza estabelecerá naquela casa.

Deve-se notar o comportamento de Sousa Costa. Sua atitude de contratar uma profissional do amor para realizar os serviços debaixo do seu próprio teto revela determinados valores da burguesia da época. Comporta-se como o novo rico que acha que o dinheiro pode tomar posse de tudo, até da iniciação sexual. São ricos que ainda não têm, no entender de Mário de Andrade, estrutura para merecer seu presente status.

Nesse aspecto o autor mostra-se bastante cruel. Ficaram notórias as suas críticas à burguesia paulistana e à sua mania de tentar ser o que não é ou esconder o que no fundo é. Observa-se a genialidade do narrador ao descrever Sousa Costa usando brilhantina até no bigode. Assemelha-se à esposa, que também usa produto para alisar o cabelo. Querem esconder que são tão mestiços quanto o resto do país.

O fato é que Carlos realmente precisava ser educado. Constantemente ao brincar com suas três irmãs mais novas acabava, sem querer, machucando-as. Há aqui toda uma conotação freudiana, mas o que mais importa é entender que o protagonista fere porque não sabe controlar sua força. É um desajeitado. Nesse aspecto sua iniciação será importante, pois servirá para domar seus impulsos, sua energia, sua afetividade.

Fräulein tem plena consciência desse objetivo. Quer ensinar o amor em sua forma tranquila, sem descontroles, sem paixões. O problema é que o garoto é aluado. Por mais que Elza se apresente sedutora nos momentos em que os dois ficam sozinhos na biblioteca (outra crítica é dirigida à burguesia paulistana. Os livros da biblioteca são comprados por questão de status, muitos nem sequer sendo abertos, chegando alguns até a estarem com as páginas coladas), estudando alemão, o garoto não percebe as intenções dela, o que a deixa em alguns momentos irritada.

No entanto, o que chega a reforçar a tese da professora, com a convivência brota o interesse do menino pela mestra. É algo que não se quer revelar claro de primeira. Começa com o interesse que o garoto tem repentinamente por tudo o que se refere à Alemanha, acelerando até o conhecimento da língua. Se antes tinha um desempenho sofrível, agora apreende vocabulário de forma acelerada.

Revelando muito bem as características da sexualidade humana (Freud), a atração mostra-se mergulhada num jogo de avanços e recuos, de desejos e de medos. Os toques de Fräulein tornam-se cada vez mais constantes. A tensão torna-se máxima quando o menino masturba-se inspirado na professora (é um episódio descrito de forma extremamente indireta, tangencial, dificultando em muito sua percepção. É necessário um malabarismo mental para entendê-lo. Talvez a intenção do narrador é, além de evitar o escândalo de ser claro em aspecto tão delicado (várias vezes diz que não quer produzir obra naturalista), mostrar como a questão está problemática na cabeça de Carlos. Tanto é que pouco após esse episódio, há a menção a anjos lavando com esponja santa o pecado que acabara de ser cometido. Essa noção de prazer e pecado, de o instinto desejar algo, mas a educação e a formação religiosa marcarem isso como condenável, é outro elemento muito analisado por Freud). Toma consciência, portanto, de que a deseja.

Até que, pressionada pelas trapalhadas da família Sousa Costa (Sousa Costa havia descumprido o combinado quando contratara Fräulein: deixar claro para D. Laura qual era a função da professora. A mãe, alheia ao que estava acontecendo, estranhara o apego do filho à mestra e vai conversar com a alemã, ingenuamente preocupada com a possibilidade de o menino fazer besteira. Inconformada com a quebra do prometido, Elza força uma reunião entre ela e os pais, na qual tem como intenção deixar todo o acerto claro. O resultado é que tudo se complica. Fräulein decepciona-se com a maneira como os “latinos” tratam aquele assunto e os pais de Carlos não sabem exatamente o que fazer, se querem ou se não querem a governanta), torna-se mais apelativa. O contato corporal é mais intenso, o que assusta Carlos. Medo e desejo. Delicadamente Fräulein vence. Inicia, ainda que sensualmente, Carlos. Mas em pouco tempo a iniciação sexual torna-se efetiva. O garoto passa a frequentar de noite a cama de Elza.

Os dois acabam assumindo uma cumplicidade gostosa, o que indica o amadurecimento de Carlos. É uma situação preocupante, pois Fräulein acaba se envolvendo. Na verdade, o que acontece é que isso acirra o conflito entre os dois alemães que o narrador afirma que a governanta carrega dentro dela. O primeiro é dedicado ao sonho, à fantasia. É um coitado que anda sufocado em Elza. O segundo é o prático, que planeja, que é metódico. Esse é quem domina sua personalidade. Carlos, no entanto, vem fortalecer o primeiro, comprometendo o segundo.

Para complicar sua situação, uma das irmãs de Carlos fica doente. A governanta passa a cuidar dela. Tudo em sua mão funciona perfeitamente. A família Sousa Costa cria uma enorme dependência em relação à alemã. E ela começa a se sentir a mãe de todos. Aliás, um papel que ela assumirá no final da narrativa.

Preocupada em não perder controle da situação, decide acelerar o término de sua tarefa. Quer que tudo termine de forma dramática, pois acredita que a lição sentida no corpo é mais efetiva. O trauma amadurece. Acerta com Sousa Costa um flagrante.

Os amantes são surpreendidos no quarto da governanta. Dentro da armação, o pai dá uma bronca no filho, ensinando-o a tomar cuidado, pois sempre havia o risco de gravidez, casamento forçado e outros problemas. Fräulein, recebidos seus oito contos, parte, mergulhando Carlos num luto monstruoso. Faz parte de seu crescimento.

Após isso, a narrativa flagra Fräulein ensinando um outro garoto da burguesia de Higienópolis, Luís. Não sente prazer nesse serviço agora, talvez por ter em sua mente Carlos, mas o está seduzindo, abrindo-lhe o caminho para o amor. É sua profissão. Precisa ser prática para juntar dinheiro e voltar para a Alemanha.

É Carnaval. Em meio à folia de rua, Elza localiza Carlos. Atira-lhe uma serpentina para chamar a sua atenção. O rapaz a vê e a cumprimenta formalmente. Parecia estar mais ocupado em curtir a garota que lhe faz companhia.

Fräulein tem um misto de emoções. Ao mesmo tempo em que seu lado sonhador sente-se frustrado – o rapaz, depois do tanto que ocorreu, mostrou-se frio –, sente-se realizada ao lembrar de todos os que iniciou, os que ensinou o amar, intransitivamente, ou seja, a amar não importa qual seja o objeto, o alvo. É como se quisesse ensinar que o mais importante é aprender a amar intransitivamente para depois poder amar alguém, transitivamente.

O livro tem uma estrutura incomum: não há capítulos em si, apenas espaços em branco que separam passagens; a palavra FIM aparece após o Idílio, apenas após isso dá-se a conclusão da história.
Fonte: Passei na Web