sexta-feira, 10 de julho de 2020

Um pouco de humor inteligente para vocês!


“Dont repair the mess. The house is yours. I make question. Pardon anything. Go with god. Come back always.” Publicada em Julho de 2014, a crônica que dá título a este volume, que cria uma conversa imaginária de um brasileiro com um gringo visitando o Brasil durante a copa, rapidamente se tornou um viral de internet, até ser comentada em artigo do Washington Post. Trata-se de uma amostra da verve humorística embebida de zeitgeist, crítica ferina e muito afeto de Gregorio Duvivier, um dos autores mais promissores do Brasil na atualidade. Reunindo o melhor de sua produção ficcional, Put some farofa traz textos publicados na Folha de S.Paulo e esquetes escritos para o canal Porta dos Fundos, além de alguns inéditos. Se Gregorio traz o raro dom da multiplicidade, tendo se destacado no cenário cultural brasileiro ao mesmo tempo como ator, roteirista, comediante, cronista e poeta, também múltiplo é este volume, que transita entre ficções, memórias de infância, ensaios sobre artistas que o influenciaram, artigos panfletários, exercícios de linguagem e outras experimentações. Os textos vão da pauta que está sendo debatida naquele dia no jornal ao completo nonsense; do amor ao ódio, do íntimo ao universal. No conjunto, o que espanta no autor é o frescor, a coragem, a visão transformadora e, sobretudo, a capacidade inesgotável de se renovar a cada semana, contando sempre com a inteligência e a sensibilidade do leitor.




O livro se divide em três partes, cada uma composta por textos de assuntos diversos. Por todo o conteúdo, é possível encontrar desde crônicas carregadas de humor, algumas beirando o nonsense, até outras politizadas, críticas e reflexivas ou, então, sentimentais e emotivas.

“Assento: põe-se embaixo. Acento: põe-se em cima.

(…) Cumpridas: as leis não são. Compridas: as leis são.
(…) Discriminar: o que é feito com o usuário de drogas. Descriminar: o que deveria ser feito com ele.
(…) Golfinho: baleia extrovertida. Tubarão: golfinho sociopata.”

“Nuances”, páginas 100 e 101


Seja qual for a característica predominante de cada crônica, é visível o quanto cada uma dela é dotada de sensibilidade. Gregório demonstra plena noção do mundo ao seu redor e consegue transmitir em suas palavras suas impressões, opiniões e reflexões, independentemente se em forma de humor ou não. Também, consegui ter certa noção de como sua mente, rápida e criativa, funciona, visto que ele também consegue demonstrar isso ao leitor. De modo geral, são muitas as passagens em que nos deparamos completamente admirados por sua habilidade e domínio com as palavras.
“O que entendi é que é melhor desistir de entender. O roteirista da vida é preguiçosíssimo. Personagens queridos somem do nada. Personagens chatíssimos duram pra sempre. Tem episódios inteiros de pura encheção de linguiça e, de repente, tudo o que deveria ter acontecido numa temporada inteira acontece num dia só. As coincidências não são críveis – e numerosas demais. A vida é inverossímil.”
“Spoilers”, página 197



Fazendo uso de uma linguagem ora coloquial, ora mais formal, cada forma de sua escrita tem um propósito definido e, independentemente de como se apresente, o estilo é único: o estilo Duvivier, extremamente fluido, sagaz, convidativo e capaz de entreter o leitor.

Put Some Farofa é um livro que pode ser lido aos poucos, sendo calmamente degustado, algumas crônicas por dia. Contudo, é quase impossível não se render à voracidade e devorá-lo inteiro em poucas horas. 


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