sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Novembro Consciente - O Advogado dos Escravos

O Advogado dos Escravos - Luiz Gama pelo autor Nelson Câmara


O Advogado dos Escravos, um menino baiano, filho de um fidalgo com uma africana rebelde, foi vendido como escravo pelo pai, reconquistou a liberdade, serviu ao exército, trabalhou como escrevente de polícia, foi impedido (pela cor) de cursar a faculdade, mas ainda assim tornou-se poeta, jornalista e advogado. Embora sem diploma e anel, conseguiu resgatar 500 negros da escravidão em pleno Brasil imperial. Novela das seis? Ficção? Parece, mas esse menino existiu, chamava-se Luiz Gama e este ano, 180 após o seu nascimento e 128 da morte prematura, por diabetes, ganhou novas biografias, que resgatam a história de suas heroicas batalhas em defesa da liberdade nos tribunais.

O advogado dos escravos, escrito pelo também advogado paulista e mestre em Direito do Trabalho, Nelson Câmara, é um tributo às contribuições de Luiz Gama tanto para as causas da abolição e da proclamação da república, quanto para a história do próprio direito brasileiro. Aos aficionados por história, o livro traz um panorama do funcionamento do judiciário durante o segundo império e reúne farta documentação até então ainda não publicada sobre a vida de Gama.

Os pedidos de habeas corpus impetrados pelo chamado “apóstolo negro da abolição” em defesa dos cativos que batiam à sua porta pedindo ajuda; trechos dos seus discursos em defesa daqueles que por revolta tinham assassinado os senhores – ficou famosa a frase em que afirmava “Perante o Direito, é justificável o crime do escravo perpetrado na pessoa do senhor” -, os embates ideológicos em reuniões do partido republicano, a amizade com Castro Alves e Rui Barbosa, mais fotos e gravuras; além de cronologia e dos dados biográficos, completam o volume de 316 páginas, desdobramento de uma obra anterior de Nelson Câmara sobre a escravidão no império de D. Pedro II.

Filho de rebelde Em O advogado dos escravos, está publicada também a íntegra da carta autobiográfica que Luiz Gama endereçou a um amigo, dois anos antes de morrer. No documento, ele conta que nasceu em Salvador, em um sobrado na freguesia de Santana, em 1830. Era filho da líder rebelde Luiza Mahim, envolvida na Bahia em diversas rebeliões como a Sabinada e a Revolta dos Malês. Seu pai, que ele nunca revelou quem era, tinha origem nobre, mas dilapidou a fortuna no jogo e na bebida, vendendo o filho para saldar dívidas.

O livro aborda não somente a questão abolicionista, mas revela com primor a sensibilidade de Luiz da Gama, que em muitos momentos não traz a amargura de um escravo, mas a sensibilidade que poucos possuem ainda hoje. Além dos documentos de época, que são verdadeiras relíquias. Um livro fantástico e emocionante, o autor tem durante o livro uma dimensão de muitas faces de Luiz da Gama e em cada uma delas revela também a sua própria sensibilidade, conduzindo divinamente toda a história e no final o que temos é um exemplo de brasileiro.

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