Seres Mágicos e Histórias Sombrias

“O que aconteceu depois?” É com essa pergunta de criança, que todas as boas histórias carregam em si para atiçar seus leitores a virar mais uma página, que Neil Gaiman nos lembra do que realmente importa em uma história. Deixando de lado rótulos de gênero e as limitações que eles podem trazer a todos os envolvidos na leitura (seja o autor ou o leitor), Gaiman se une a Al Sarrantonio (autor e editor de antologias) para compilar uma coletânea na qual o tema central é, simplesmente, uma boa história.
“Seres Mágicos e Histórias Sombrias” é uma coletânea bastante diversificada. Não à toa conta com nomes conhecidos do terror, da fantasia e também do policial. Entre eles Joyce Carol Oates, Peter Straub, Chuck Palahniuk, Jeffery Deaver e Lawrence Block.
Por se tratarem de temáticas diferentes, desenvolvidas por autores diferentes, é difícil encontrar um fio condutor nesta coletânea. Em “Seres Mágicos e Histórias Sombrias” temos de tudo. Um homem que, de uma hora para outra, passa a sentir um desejo incontrolável de beber sangue (no, surpreendentemente, envolvente “Sangue”, de Roddy Doyle, conto que abre a antologia); um matador de aluguel (em “Descrença”, de Michael Marshal Smith); um homem que volta da guerra para reencontrar seu filho e sua esposa com menos saudades dele do que ele esperava (em “As estrelas estão caindo”, de Joe R. Landsdale), uma mulher que perde sua vida real ao virar musa de um namorado escritor (em “Uma vida em ficção”, de Kat Howard) e até uma perigosa escadaria que pode levar ao inferno (em “O diabo na escada”, de Joe Hill, cuja diagramação é totalmente inusitada, dando um ritmo bastante diferente à leitura).

Os contos mais envolventes podem ser citados como o “Perdedor” (de Chuck Palahniuk), que em menos de dez páginas de uma narrativa intensa e ligeiramente incômoda o deixa curioso para conferir outras obras do autor; e “Pegar e Soltar” (de Lawrence Block), um conto essencialmente de suspense sobre um homem adepto da técnica de “pegar e soltar”, embora não pratique isso apenas com peixes, mas também com mulheres, freando seus impulsos de matá-las.
Em “Seres Mágicos e Histórias Sombrias” Gaiman e Sarrantonio propõem que a percepção de fantástico nada mais é do que lançar uma nova luz em direção àquilo que já conhecemos, nos fazendo ver o conhecido com outros olhos. Falsos gurus, gêmeos de relacionamentos complicados, famílias enlutadas. Tudo vale desde que em algum momento o leitor sinta a vontade de dizer aquelas quatro palavras que são as que realmente dão o tom de mágica a uma história: “O que aconteceu depois?”

Fonte: Além da Contracapa
Interessante!!
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